Por que você sempre repete os mesmos erros? — Pare de se sabotar
Transcrição do vídeo
Introdução
Você já se sentiu desconectado do mundo, como se algo estivesse fundamentalmente errado — mas não soubesse exatamente o quê?
Talvez você sinta uma angústia silenciosa ao acordar, ou um cansaço de viver que nem o final de semana consegue curar. Você já se perguntou por que, mesmo com tanta liberdade, tecnologia, e possibilidades de prazer à disposição, ainda assim nos sentimos vazios?
Segundo Sigmund Freud, esse mal-estar que muitos carregam não é um problema individual. É o preço que pagamos por viver em sociedade.
No seu livro O Mal-Estar na Civilização, Freud apresenta uma tese ousada e perturbadora para a sua época: o próprio projeto civilizatório é uma fonte constante de sofrimento humano. A civilização, ao nos oferecer segurança e ordem, também reprime os nossos instintos mais profundos — especialmente os sexuais — gerando frustração, neuroses e até revoltas inconscientes.
Enfim, esse é o preço que pagamos por viver em sociedade. Mas isso não quer dizer que a vida fora dela seria melhor. Muito pelo contrário. A vida seria um verdadeiro inferno sem a presença dos outros, mesmo com todos os problemas que o convívio apresenta. Nós só nos conhecemos através da alteridade, isto é, de um outro. Há mais de dois mil anos, Aristóteles já escrevia que
“[…] quem não precisa de ninguém, ou é um bicho ou é um deus.”
Aristóteles, Política.
Neste vídeo, vamos entender a psique humana através das ideias de Sigmund Freud — o pai da psicanálise; por que ele acreditava que a infelicidade não é uma exceção, mas uma condição inevitável do ser humano e da vida civilizada; vamos ainda compreender um fenômeno curioso, mas já esperado do resultado da revolução sexual do século XX e o que podemos fazer para, apesar do sofrimento inevitável da vida, ainda assim, encontrar nela um significado.
Capítulo 1 — O inconsciente revelado: o que Freud descobriu sobre a mente humana
Você pode falar o que quiser de Freud, mas é inegável que ele mudou para sempre a forma como enxergamos o ser humano. Em seus textos, Freud deixa claro que somos guiados por forças internas que mal compreendemos, que não somos pais de nossa própria casa, e que repetimos muitos comportamentos e decepções durante a vida porque não conhecemos o mecanismo que está por trás de tudo isso.
A maior dessas forças do qual Freud explorou é o inconsciente — um território sombrio, reprimido, mas extremamente ativo. Freud acreditava que grande parte do que sentimos, pensamos e fazemos nasce nesse abismo mental. Ele o definiu como uma parte da mente inacessível à consciência, mas que pode ser conhecida através das suas manifestações conscientes, como nos atos falhos, nos sonhos e nas repetições destrutivas do nosso comportamento. E é também a partir do inconsciente que se desenvolve o que chamamos de “Eu”.
No texto “O Inconsciente” (1915), Freud afirma que:
“É uma suposição necessária, a de que uma unidade comparável ao Eu não existe desde o começo no indivíduo; o Eu tem que ser desenvolvido.”Sigmund Freud, O Inconsciente.
Esse trecho nos revela que, a personalidade não é algo dado, mas construído — e que está constantemente em disputa com nossos desejos inconscientes.
A partir dessas descobertas, Freud, ao decorrer dos anos, foi reformulando sua teoria e desenvolveu o conceito de que o psiquismo é dividido em três instâncias: o id, que representa os impulsos primitivos e instintivos, o reservatório do inconsciente de fato; o ego, nosso centro de percepção com o mundo exterior e que busca equilibrar os desejos com a realidade; e o superego, que representa as normas sociais e a moral introjetadas a partir das figuras parentais. Embora eu tenha esboçado de maneira simplória, essa estrutura é o campo de batalha da vida humana.
Para Freud, o inconsciente é responsável por grande parte daquilo que chamados de “estar no controle”.
No texto “O Eu e o Id” (1923), Freud declara que:
“A diferenciação do psíquico em consciente e inconsciente é a premissa básica da psicanálise […] a psicanálise não pode pôr a essência do psíquico na consciência, mas é obrigada a ver a consciência como uma qualidade do psíquico, que pode juntar-se a outras qualidades ou estar ausente.”Sigmund Freud, O Eu e o Id.
Esse conceito rompe com a ideia tradicional de que somos inteiramente racionais e conscientes. O ego não é soberano. Ele está sempre pressionado, tentando manter o equilíbrio entre o id (que deseja sem limites), o superego (que julga com severidade) e o mundo externo (que impõe regras). Freud compara essa situação ao cavaleiro que tenta controlar um cavalo forte demais para ser domado: “Assim como o cavaleiro, a fim de não se separar do cavalo, muitas vezes tem de conduzi-lo aonde ele quer ir, também o Eu costuma transformar em ato a vontade do Id, como se ela fosse a sua própria.” Sigmund Freud, O Eu e o Id.
Freud ainda vai além ao afirmar que até mesmo o ego — que acreditamos ser a parte consciente e racional — também é, em parte, inconsciente. Há conteúdos reprimidos que operam fora da consciência do próprio ego, influenciando comportamentos, sabotando decisões, criando sintomas neuróticos.
Ele escreve que:
“Encontramos no próprio Eu algo que é também inconsciente, comporta-se exatamente como o reprimido, isto é, exerce poderosos efeitos sem tornar-se consciente.”Sigmund Freud, O Eu e o Id.
Esse é o verdadeiro escândalo da psicanálise: não somos senhores em nossa própria casa. E é a partir desse conflito interno — essa batalha silenciosa entre o desejo e a repressão, entre o prazer e a realidade — que nasce o sofrimento humano.
Com isso, Freud nos oferece não apenas uma explicação da mente, mas uma chave para entender por que somos tão frequentemente infelizes, mesmo quando “tudo parece bem”.
Ou seja, a vida humana está condenada ao conflito desde o nascimento. Queremos o prazer, mas precisamos lidar com a realidade. Buscamos a satisfação, mas somos reprimidos. E é justamente essa repressão — inevitável e contínua — que marca nossa existência com um mal-estar constante.
E Freud resumiu essa contradição em uma de suas obras mais poderosas: O Mal-Estar na Civilização.
Capítulo 2 — Vivendo em conflito: por que a vida moderna nos adoece
Em O Mal-Estar na Civilização, Freud lança um diagnóstico brutal sobre a vida em sociedade:
“É impossível fugir à impressão de que as pessoas comumente empregam falsos padrões de avaliação – isto é, de que buscam poder, sucesso e riqueza para elas mesmas e os admiram nos outros, subestimando tudo aquilo que verdadeiramente tem valor na vida.”
Sigmund Freud, O Mal-estar na Civilização
Essa observação, feita há quase um século, ainda permanece atual. Vivemos presos a padrões impostos de sucesso, beleza, produtividade e constante performance. O resultado disso? Angústia, alienação e um sentimento persistente de inadequação.
Por civilização, Freud entendia o seguinte:
“[…] a inteira soma das realizações e instituições que afastam a nossa vida daquela de nossos antepassados animais, e que servem para dois fins: a proteção do homem contra a natureza e a regulamentação dos vínculos dos homens entre si.”
Sigmund Freud, O Mal-estar na Civilização.
Freud via a sociedade moderna como um campo de forças que constantemente reprime nossos desejos mais profundos. Para viver em comunidade, somos obrigados a reprimir nossos impulsos sexuais, agressivos, egoístas — o que ele chama de “instintos” ou “pulsões”. Mas essa repressão tem um custo psíquico alto.
Segundo ele,
“a cultura humana é, em larga medida, edificada sobre a repressão de impulsos instintuais.”
Sigmund Freud, O Mal-estar na Civilização.
Isso quer dizer que quanto mais civilizados nos tornamos, mais infelizes também nos tornamos.
E isso se manifesta nas ansiedades da vida moderna, seja através do trabalho excessivo, onde Freud já observava como o exagero de obrigações pode roubar o sentido da vida; seja através das incertezas econômicas, onde se vive uma sensação constante de ameaça à estabilidade financeira que nos coloca em um estado crônico de alerta; seja pelas pressões sociais, onde temos a necessidade de atender expectativas externas que nos afasta de nossos desejos genuínos.
Freud compreendeu que a ênfase moderna em produtividade, competição e conformidade é um terreno fértil para o sofrimento psicológico. Hoje, nomeamos isso com palavras como burnout, ansiedade generalizada e depressão existencial. Mas a raiz do problema permanece a mesma, isto é, a de que vivemos em desacordo com nossa própria natureza.
Mas aqui entra uma reflexão essencial: não é o sofrimento que nos adoece, mas a impossibilidade de compreendê-lo e expressá-lo. E essa é uma das lições mais importantes da psicanálise: dar sentido ao sofrimento.
Nas palavras de Freud,
“Nosso presente sentimento do ego não passa, portanto, de apenas um mirrado resíduo de um sentimento muito mais inclusivo – na verdade, totalmente abrangente –, que corresponde a um vínculo mais íntimo entre o ego e o mundo que o cerca.”
Sigmund Freud, O Mal-estar na Civilização
Essa desconexão entre quem somos e o mundo que habitamos é, talvez, o verdadeiro coração da infelicidade moderna.
Capítulo 3 — A corrida pela felicidade: uma ilusão coletiva?
Freud foi incisivo ao declarar que a felicidade, tal como é prometida pela sociedade moderna, é uma ilusão. Em Além do Princípio do Prazer, ele nos apresenta dois conceitos fundamentais: o Princípio do Prazer e o Princípio da Realidade.
Ele afirma:
“Por influência dos instintos de autoconservação do Eu, [o princípio do prazer] é substituído pelo princípio da realidade, que, sem abandonar a intenção de obter afinal o prazer, exige e consegue o adiamento da satisfação, a renúncia a várias possibilidades desta e a temporária aceitação do desprazer.”Sigmund Freud, Além do Princípio do Prazer.
O princípio do prazer trata-se da tendência natural da psique de evitar o desprazer e buscar o prazer imediato, sobretudo por meio da descarga de tensões internas. E essa descarga vem na forma física, emocional ou simbólico.
Mas a vida não permite prazer ilimitado. É aí que entra o Princípio da Realidade: ele substitui o princípio do prazer na medida em que o sujeito amadurece e precisa lidar com as exigências do mundo externo. Em outras palavras, aprendemos a esperar, a planejar, a negociar desejos com a realidade. Essa adaptação é necessária para viver em sociedade, mas também é fonte de angústia e frustração.
Foi também nesse livro que Freud reformulou sua teoria de que o ser humano busca somente aliviar o desprazer, onde ele percebeu que, para além do princípio do prazer, também há um instinto de morte, que impele o ser humano para a sua própria destruição. Ele escreve que:
“Suponho que o objetivo de toda vida é a morte.” Sigmund Freud, Além do Princípio do Prazer.
No entanto, o mal-estar que vivemos hoje não é tanto a renúncia dos instintos sexuais, mas sim a introjeção da hipersexualização na sociedade. Vivemos em uma era que proclama liberdade sexual como nunca antes. No entanto, as taxas de atividade sexual estão em declínio, especialmente entre os jovens.
Dados recentes indicam que, entre 2009 e 2018, a proporção de adolescentes relatando nenhuma atividade sexual aumentou significativamente. Por exemplo, entre os jovens de 18 a 24 anos nos Estados Unidos, a inatividade sexual aumentou de 19% para 31% entre os homens e de 49,5% para 74% entre as mulheres.
Esse fenômeno, conhecido como “recessão sexual”, revela um paradoxo: nunca fomos tão livres em termos de emancipação sexual, nunca fomos tão livres para atender ao princípio do prazer freudiano e ainda assim, nunca estivemos tão distantes dela.
As transformações na cultura gerada pela revolução sexual da década de 60, que buscava desvincular o sexo da reprodução, graças à pílula anticoncepcional; que buscava reivindicar o corpo como fonte legítima de prazer, não mais como algo a ser controlado por religiões, Estados ou famílias; e que visava mais liberdade sexual, teve o seu auge na década de 80 e 90, mas as consequências dessas ideias emancipatórias, amplamente disseminadas por intelectuais como Herbet Marcuse, Wilhelm Reich e Simone de Beauvoir, estão sendo experimentadas pela geração atual.
Acreditou-se que o sexo, uma vez liberto, nos tornaria mais felizes e autênticos. Por um tempo, parecia funcionar. Mas o que era para ser libertação, virou novo tipo de prisão. Ao invés de criar relações mais livres, autênticas e humanas, o que resultou foi uma sociedade cada vez mais utilitária, narcisista e hipersexualizada.
Aplicativos de encontros, pornografia acessível, discursos de empoderamento sexual e a mercantilização da sexualidade e do corpo estão por toda parte. Nunca foi tão fácil recorrer às gratificações sem precisar passar pelas contingências de conhecer uma pessoa real ou lidar com as frustrações de um relacionamento real. Diante de todos esses benefícios as pessoas estão cada vez mais centradas em si mesmas.
O historiador americano do século XX, Christopher Lasch, em seu livro, A Cultura do Narcisismo, já alertava para os perigos de uma sociedade centrada apenas no “eu”. Ele argumenta que o narcisismo moderno leva os indivíduos a buscar incessantemente validação externa, resultando em relações superficiais e efêmeras.
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em seu livro, A Sociedade do Cansaço, complementa essa visão ao afirmar que vivemos em uma “sociedade do desempenho”, onde o indivíduo é constantemente pressionado a se autoexplorar e a se apresentar de forma idealizada. Essa pressão incessante leva ao esgotamento emocional e à perda do desejo genuíno.
Byung-Chul Han também mostra que a hiperexposição e a mercantilização da sexualidade na era digital transformaram o sexo em um produto, esvaziando-o de seu conteúdo erótico e afetivo.
Assim, apesar de vivermos em uma sociedade que exalta a liberdade sexual, estamos testemunhando uma crescente desconexão entre o indivíduo e sua alteridade, isto é, o outro. A busca por validação externa, a pressão por desempenho e a mercantilização das relações humanas estão nos afastando cada vez mais do erotismo, do encontro genuíno e do mistério que o outro proporciona, e abrindo cada vez mais espaço para o que Byung-Chul Han chama de “inferno do igual”, a busca pela felicidade centrada no eu.
[explicar o erotismo]
E se a revolução sexual tinha o objetivo de promover a felicidade através da liberdade sexual, livrando as pessoas de suas neuroses, hoje, apesar da liberdade sexual, nos encontramos mais neuróticos e alienados dos outros. No fim das contas, a busca pelo prazer e pela felicidade só geraram cada vez mais dor e sofrimento.
Freud escreve que:
“Nada tenho a sugerir que possa exercer influência decisiva na solução desse problema [da felicidade]. A ideia de os homens receberem uma indicação de sua vinculação com o mundo que os cerca por meio de um sentimento imediato […] soa de modo tão estranho e se ajusta tão mal ao contexto da nossa psicologia.”
Sigmund Freud, O Mal-estar na Civilização.
A corrida pelo prazer constante é uma forma de negação da dor, mas negar a dor não a faz desaparecer — apenas a torna mais insuportável e confusa.
Capítulo 4 — Encontrando a realização: além da crítica de Freud
Freud nunca prometeu alívio completo do sofrimento humano. Pelo contrário, ele foi categórico ao afirmar que a vida civilizada exige renúncias permanentes, e que a infelicidade é o preço que pagamos pela ordem social, mas que é necessária, pois do contrário, viveríamos em um caos constante. Mas mesmo em sua visão sombria, há uma abertura para a reflexão: se não podemos escapar do sofrimento, talvez possamos ressignificá-lo.
Mas será que isso é tudo? Será que estamos condenados à frustração perpétua?
Freud reconhece os limites da civilização, mas não nega a possibilidade de que, mesmo dentro dessas limitações, possamos encontrar um modo mais autêntico de viver. A questão é: como?
A resposta não está na rejeição dos impulsos nem na submissão cega às normas, mas na construção de um equilíbrio pessoal. Isso exige que o indivíduo se volte para dentro e questione:
- O que realmente tem valor para mim?
- Quais escolhas estou fazendo para me sentir aceito, mas que me afastam da minha autenticidade?
- Estou vivendo segundo os desejos do meu id, os julgamentos do meu superego, ou de acordo com um senso interno de propósito?
Todas essas e outras perguntas podem ser desenvolvidas e elaboradas em terapia, que funciona com um ótimo investimento para o autodesenvolvimento.
Qualquer desejo “terreno”, material, seja a saúde, a fortuna, o prazer, o bem-estar, etc., elevado à categoria de fim último da vida, não só contradiz o sentido individual, como destrói a própria vida.
Tomando o exemplo da saúde. Se uma pessoa faz da saúde dela seu objetivo de vida, se tornará hipocondríaco, que fica sempre imaginando o que pode estar errado com o seu corpo. Só teremos uma boa saúde se não pensarmos o tempo todo em ter uma boa saúde.
Se uma pessoa faz do prazer seu objetivo de vida, irá se satisfazer cada vez menos com aquilo que já experimentou, buscando maneiras esdrúxulas de tentar obter o montante de prazer que necessita. E assim segue algo semelhante para todos os outros exemplos.
Temos que aprender a desejar outra coisa ainda mais do que aquilo que estamos tentando buscar.
Mas esse desejo último, se for um desejo material, acabará se transformando no seu oposto, já que estamos imersos no tempo, no constante devir, causa da oscilação de nossas paixões, corpos e imaginação, e o que era desejo acaba se tornando uma frustração.
Muitas vezes, é justamente o desejo pelo prazer ou o desejo pelo poder que toma o lugar da vontade de sentido que foi frustrada.
Se nenhum desejo no mundo será capaz de nos satisfazer, isso também não significa que o mundo é mal, apenas que os prazeres terrenos não tenham a intenção de nos satisfazer mesmo. Sempre queremos eternizar o que é bom, mas tudo que tem matéria é perecível.
A sociedade exige sacrifícios, mas não oferece, em troca, um significado claro para a vida. É por isso que tantas pessoas mergulham em crises existenciais, mesmo tendo conquistado tudo aquilo que foi prometido como fórmula da felicidade.
Freud sabia que a repressão absoluta das pulsões levava à neurose, mas também sabia que a sua liberação desenfreada resultava em destruição. O caminho possível que Freud encontrou está na capacidade de transformar o desejo em algo construtivo através da sublimação — isto é, onde os impulsos instintivos são canalizados e direcionados para o trabalho, para a arte, para os projetos intelectuais, para a espiritualidade, para o amor a alguém ou para o amor à Deus.
É por isso que ele afirma:
“O ser humano torna-se neurótico porque não pode suportar o grau de frustração imposto pela sociedade.”
Sigmund Freud, O Mal-estar na Civilização.
A saída, portanto, está em encontrar uma vida que faça sentido, que, apesar do sofrimento, tenha significado, dentro das condições humanas reais, e não ideais. Isso envolve a coragem de abandonar caminhos automáticos e cultivar vínculos verdadeiros, que não sejam apenas funcionais, mas significativos.
Em tempos de excesso, performance e distrações infinitas, a escolha revolucionária é viver com significado, e não com intensidade.
Capítulo 5 — Um convite à reflexão: e se estivermos procurando no lugar errado?
Agora, uma pergunta final: e se estivermos procurando a felicidade onde ela nunca esteve?
A sociedade moderna nos treina desde cedo para buscar fora aquilo que só pode ser encontrado dentro. Freud sabia disso. Ele compreendeu que o mal-estar da civilização não é um desvio da normalidade, mas o seu próprio fundamento.
Como ele escreve em O Mal-Estar na Civilização:
“A cultura humana é, em larga medida, edificada sobre a repressão de impulsos instintuais. Cada indivíduo é, portanto, um inimigo potencial da cultura, e ela é obrigada a gastar energia para limitá-lo, para domá-lo.”Sigmund Freud, O Mal-estar na Civilização.
Mas ao invés de usar essa constatação para nos entregar ao desespero, podemos usá-la como um ponto de partida para a busca interior. E essa busca começa com um passo simples e corajoso, que é parar de fugir de si mesmo.
A felicidade verdadeira não está no prazer constante, nem na aceitação social. Está em aceitar que somos seres divididos, complexos, em permanente conflito — e ainda assim capazes de encontrar sentido, amar profundamente e transformar a dor em sabedoria.
Precisamos abandonar a ideia de que um estilo de vida ou uma imagem perfeita podem preencher o vazio. Freud nos deu as ferramentas para entender nossa mente.
George Orwell, escritor e romancista inglês, que viveu durante os horrores orquestrados por regimes totalitários durante o século XX, também percebeu que a salvação é individual e que qualquer projeto para melhorar o mundo só vai acabar em mais destruição:
“Se quer uma imagem do futuro, imagine uma bota a espezinhar uma cara humana…para sempre […] Não deixe isso acontecer, só depende de você.”
George Orwell, Entrevista à BBC.
Livros recomendados:
O Mal-estar na civilização: https://amzn.to/44JkFjX