O Desespero Humano — Søren Kierkegaard

O desespero é a discordância interna cuja relação se refere a si mesma. Em outras palavras, se desesperar é não querer ser a si mesmo, fugir de si mesmo; viver uma mentira. Assim é que kierkegaard, em seu livro, O Desespero Humano, estabelece o que ele chama de doença mortal: perecer em vida, antes de, realmente, perecer, pela falta do eu.
Quanto mais consciência do eu houver, menos desespero haverá. Pois quanto mais consciência, mais a vontade cresce; e quanto maior for a vontade, maior será a liberdade.
Existem diversas formas pelas quais o desespero se manifesta no eu. Ele pode se manifestar pela imaginação, pelos desejos diurnos, transportando-nos para o infinito, nos afastando cada vez mais do nosso eu concreto. Mas o desespero também pode se manifestar pelo finito, na imanência das relações humanas. Dessa forma, aquele que vive de aparências, sempre esperando corresponder às expectativas alheias, cala a si mesmo, esperando obter glória, estima e outros aspectos mundanos e efêmeros. Este carece de infinito; o que devaneia, pelo contrário, carece de finito.
Há ainda o desespero da possibilidade, quando o eu não consegue se firmar em nenhuma necessidade, porque nenhuma realidade se forma. É aquele que se perde em desejos e nostalgias imaginativas, pois reprisa em sua cabeça todas as vezes que uma experiência lhe apeteceu e tenta, pelas possibilidades, buscar a que mais se assemelhe a ela, mas nunca consegue. O seu contrário é o desespero pela necessidade, quando se vê totalmente sem o possível, preso em um determinismo dilacerante. É aquele que pensa que, por estar na pior, é só isso que lhe restará.
O pior dos desesperos é o desespero da própria consciência: quando se sabe o que precisa ser feito, mas mesmo assim não o faz; quando sabe o que precisa ser dito, mas mesmo assim não o diz para evitar que o outro se decepcione. É dessa forma que o nosso eu vai se estranhando cada vez mais para nós mesmos.
Somos suscetíveis de nos desesperarmos, é uma consequência da consciência. E quem se desespera quer, no seu desespero, ser ele mesmo.