Eros e Psiquê — O Amor Banalizado

O mito de Eros e Psiquê simboliza a tentação dos desejos banais, ou seja, suas características imutáveis, sublimes, etéreas, foram vencidas pelos desejos perecíveis e corruptivos da terra. É essa “morte da alma” que confere a subversão dos valores eternos pelo que Nietzsche declarou com a frase “Deus está morto”.
Todos nós, em alguma medida, cedemos aos desejos. O que não podemos fazer é abandonar o impulso evolutivo e pecar pelo excesso, nos tornando prisioneiros de imagens mentais, correndo em uma esteira, perseguindo o desejo que sempre nos escapa, nunca nos satisfazendo.
Psiquê é a personificação da alma (e também a palavra grega para espírito ou alma) que deixa-se seduzir por Eros sob sua forma perversa (exaltação imaginativa dos desejos que possuímos). Para a alma (Psiquê), isso significa descaracterizá-la de seu aspecto sublime, banalizando-a.
Eros aprisiona Psiquê em um palácio e só aparece para ela de noite, pois Eros (aqui na sua forma perversa, ou seja, nas tentações puramente carnais) tem vergonha de sua forma perversa, razão pela qual a luxúria é cometida sempre na penumbra, longe da luz.
Em um momento, Psiquê acende uma tocha, símbolo do intelecto – daquele que foi iluminado pela inteligência – e consegue enxergar a forma de Eros, despertando de sua exaltação imaginativa. A culpa se tornou consciente.
Conseguindo escapar, Psiquê pede ajuda para Hera – o verdadeiro amor sublime, a união dos corpos perante o casamento, deusa da pureza. Feita a clarividência com a sua ajuda, o amor físico de Eros (a forma banalizada) não se apresenta mais com seu aspecto perverso e Psiquê finalmente contempla o rosto da Beleza em si.
Esse é o Belo em si de que Platão fala no Banquete: quando Eros passa da beleza dos corpos, da alma, do conhecimento e sobe a escada até chegar ao Belo em si mesmo e atingir seu mais alto grau: o amor eterno.
A relação de Eros (o amor sublime) e Psiquê (a alma, a inteligência) é a mais pura harmonia do amor com a sabedoria; a contemplação da natureza das coisas sem a corrupção do mundo. Todos estamos sujeitos às corrupções imaginativas, mas quando iluminamos nossas tentações com a tocha da verdade, elas não se revelam tão sedutoras assim.