Como controlar o mundo — 1984, Admirável Mundo Novo e Fahrenheit 451

Introdução

“Trabalho físico pesado, cuidados com a casa e os filhos, disputas menores com vizinhos, filmes, futebol, cerveja e, antes de mais nada, jogos de azar, preenchiam o horizonte de suas mentes. Não era difícil mantê-los sob controle.”

George Orwell, 1984.

Talvez você tenha pensado que eu acabei de descrever o Brasil com essa citação. No entanto, esse foi apenas um trecho que pode ser encontrado em uma famosa distopia do século XX, que eu vou comentar mais para frente.

Uma distopia é uma representação ficcional de uma sociedade futurista, mas caracterizada pela opressão, desigualdade extrema, vigilância ou controle por parte de um governo totalitário. 

Apesar de serem ficções, as distopias são reflexos ampliados e simbólicos das tensões do presente. Elas funcionam como alertas, mostrando o que pode acontecer se certas tendências sociais, políticas, tecnológicas ou culturais forem levadas ao extremo.

Acontece que, muitas das distopias escritas no século XX encontram paralelos bastante expressivos nos dias de hoje. Seja através da vigilância, da distração ou da censura, ao lermos tais obras em retrospectiva, muitas podem soar até mesmo como proféticas. 

Então, a seguir, vou listar e comentar três obras distópicas que mostram semelhanças e paralelos com os dias atuais.

1984

A primeira é a obra 1984, escrita pelo Sir Arthur Blair, mais conhecido pelo seu pseudônimo George Orwell, publicada em 1949. 

Um trecho interessante encontrado neste livro, além daquele do começo do vídeo, é este outro trecho aqui:

“Aparentemente, uma das barracas comercializava panelas de lata. Eram umas porcarias de umas panelas frágeis, de péssima qualidade. De repente o estoque disponível se esgotara. As mulheres que haviam conseguido comprar as suas, empurradas e golpeadas pelas restantes, tentavam se afastar dali com seus troféus […]. Duas mulheres haviam agarrado a mesma panela e cada uma tentava com todas as suas forças obrigar a outra a largá-la. […] Por que razão aquelas gargantas não poderiam ser capazes de gritar daquele jeito em relação a alguma coisa realmente importante?”.

George Orwell, 1984.

E o que temos hoje em dia é isso aqui:

Vigilância pelo medo

O livro descreve um futuro onde três superpotências sempre estão à beira de iniciar uma guerra mundial, pelo menos é isso que o Estado da Oceânia, uma dessas superpotências — e onde se passa a história do livro —, comunica constantemente para os seus cidadãos, a fim de impor-lhes o medo e conseguir controlá-los, do contrário, a população não teria motivos para confiar ou precisar do Estado.

Isso já evidencia o primeiro paralelo com os dias atuais. Quantas notícias você não vê de que uma guerra nuclear se aproxima, de que as autoridades estão enviando alertas que preocupam o mundo todo, de que os países estão se preparando para uma guerra iminente? Notícias sobre guerras internacionais não só informam a população — pois realmente podem acontecer e acontecem —, mas também performam o conflito: elas moldam percepções, reforçam alianças e influenciam decisões políticas.

Alertas sobre ataques que podem acontecer a qualquer momento mantêm o público num estado de excitação, disparando nosso sistema de luta ou fuga. Isso reduz a capacidade de deliberar, favorecendo respostas rápidas e conformistas diante do medo.

Quando a ameaça é externa, parte do eleitorado tende a unir-se em torno do governo, tolerando algumas medidas duras (como gastos militares e vigilância interna). Esse efeito foi documentado desde os eventos do 11 de Setembro e reaparece diante de escaladas recentes no Oriente Médio.

E o governo totalitário de 1984 controla a população justamente através do medo, fazendo com as pessoas acreditem que uma guerra pode acontecer a qualquer momento, o que as levam a acreditar que precisam do governo para se protegerem.

Dois minutos de ódio

Mas o governo totalitário do livro, conhecido como o Grande Irmão, ou Big Brother, usa outras formas de controle. Uma dessas formas de controle é permitir que a população descarregue todo o seu ódio em um alvo escolhido pelo Estado, que ficou conhecido como “Dois Minutos de Ódio”. É um momento do dia em que todos os trabalhadores são colocados diante de um telão que exibe o rosto de um inimigo do Estado para que possam lançar todos os insultos e desprezos sobre essa figura, aumentando a sensação de pertencimento de apenas um lado.

O “Dois Minutos de Ódio” é uma peça de engenharia psicológica que transforma emoções primitivas em ferramentas de poder. A excitação elevada causada pela raiva reduz o pensamento deliberativo e aumenta a obediência a comandos de autoridade.

A repetição desse ritual diariamente faz com que se instaure um hábito, o que reduz a reflexão individual ao mesmo tempo em que reforça uma identidade de grupo, já que todos estão contra um inimigo em comum, reforçando a oposição “nós contra eles” dentro da população.

No livro, o protagonista, Winston Smith, descreve o que acontece nesses dois minutos de ódio:

“O mais horrível dos Dois Minutos de Ódio não era o fato de a pessoa ser obrigada a desempenhar um papel, mas de ser impossível manter-se à margem. Depois de trinta segundos, já não era preciso agir. Um êxtase horrendo de medo e sentimento de vingança, um desejo de matar, de torturar, de afundar rostos com uma marreta, parecia circular pela plateia inteira como uma corrente elétrica, transformando as pessoas, mesmo contra sua vontade, em malucos a berrar, rostos deformados pela fúria.”

George Orwell, 1984.

Quantas pessoas você conhece ou já viu por aí que, bastando falar o nome Lula ou Bolsonaro, elas simplesmente perdem o controle, sentindo-se extremamente ofendidas? E não precisa ser sobre pessoas, mas sobre posicionamentos políticos e sociais como o feminismo ou a redpill. Basta citar ou criticar esses grupos que os dois minutos de ódio começam.

E hoje em dia, esses dois minutos de ódio duram muito mais através dos inúmeros cancelamentos e ataques coletivos que vemos nas redes sociais. As redes sociais viraram uma imensa teletela — que assim é chamado os televisores presentes em todos os cantos da Oceânia, exibindo propaganda constante do partido e o rosto do Grande Irmão a fim de impor medo na população. Nas teletelas das redes sociais, os usuários destilam todo o seu ódio em cima de um “inimigo”, entre aspas, escolhido da vez.

Da mesma forma que o governo totalitário de 1984 pode trocar o inimigo do partido e fazer a população direcionar seu ódio para outra pessoa, de tempos em tempos vemos o alvo do ódio coletivo sendo trocado nas redes sociais. Nas teletelas das redes sociais já tivemos as imagens de J.K. Rowling, Johnny Depp, Gina Carano, Chico Buarque, Monark e muitos outros.

Polícia do Pensamento

Esses linchamentos virtuais também lembram a chamada “Polícia do Pensamento” encontrada no livro. São pessoas encarregadas de vigiar e punir qualquer ideia ou posicionamento político fora dos limites impostos pelo governo, fazendo com que os cidadãos fossem induzidos a se autocensurar por medo de serem flagrados expressando algo que o partido considere “inadequado”.

O governo de 1984 opera por meio da vigilância e do medo. A imagem do Big Brother, a de um ser onisciente, mas que nunca foi visto pessoalmente, é responsável por inculcar a paranóia nas pessoas, fazendo com que se vigiassem e vigiassem os outros também. Assim, todos pareciam ser inimigos de todos e só o partido era a verdadeira salvação.

A principal crítica de George Orwell ao escrever o livro foi o de advertir que o totalitarismo pode nascer em qualquer sociedade, inclusive nas democracias, quando as pessoas deixam de vigiar o poder; quando elas aceitam distorções da verdade e se esquecem das liberdades civis. Quando o poder absoluto se impõe, o futuro deixa de pertencer às pessoas e passa a ser a perpetuação infinita da opressão. Se isso acontecesse, ele via o futuro da seguinte maneira:

“Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando num rosto humano — para sempre.”

George Orwell, 1984.

Admirável Mundo Novo

Ao contrário de 1984, onde a população é controlada pelo medo, em Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley e publicado em 1932, a sociedade é controlada pelo prazer e pela saturação de estímulos.

A sociedade global vive sob o chamado Estado Mundial, um regime tecnocrático que substituiu nações, religiões e famílias por uma ordem estável, hedonista e rigidamente planejada.

Como se trata de um mundo sem religião, os valores cristãos foram substituídos pela lógica de produção em série de Henry Ford, onde os seres humanos são gerados por incubadoras em um sistema de castas, seguindo a lógica da linha de montagem, a fim de produzir mais em menos tempo e em menor custo.

Em determinado momento do livro, um dos administradores do governo diz que tudo deve seguir a lógica da utilidade:

“As flores do campo e as paisagens têm um grande defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica.”

Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo.

E é por isso que os anos passaram a ser contados a partir da morte de Ford, com a história do livro acontecendo no ano de 632, não depois de Cristo, mas depois de Ford.

Controle pelo prazer

Como os seres humanos são gerados em incubadoras, o sexo passou a servir unicamente para o prazer, sem risco de procriação, o que faz com que o controle estatal seja facilitado, pois uma vez que as pessoas podem desfrutar do prazer sem restrições, se tornam cada vez mais dóceis e letárgicas. 

O sexo como instrumento de controle social disfarçado de liberdade possui paralelos inquietantes com o mundo atual. No livro, não há vínculos afetivos profundos entre as pessoas, e a ideia de amor exclusivo ou casamento é considerada tabu e até mesmo “anti-higiênica”. A promiscuidade é vista como sinal de saúde social.

Um lema descrito no livro é: “Todos são de todos”.

Huxley apresenta um mundo onde o sexo é livre, mas, no livro, isso não representa autonomia, e sim uma estratégia de consumo para evitar que as pessoas pensem, questionem ou sofram. O prazer rápido e repetitivo serve como sedativo coletivo, impedindo o surgimento de emoções complexas, como ciúme, amor ou sofrimento existencial.

Hoje, vivemos em uma sociedade onde o sexo também se tornou, em muitos contextos, um produto de consumo, amplamente estimulado por aplicativos de relacionamento que favorecem conexões rápidas e descartáveis, pornografia acessível e onipresente, moldando nossos padrões de desejo e uma indústria publicitária e musical que utiliza o corpo como um objeto sexualizado para vender produtos.

Em Admirável Mundo Novo, as crianças são incentivadas a explorar sexualmente umas às outras desde muito cedo, fazendo parte até mesmo do currículo escolar. Embora hoje em dia não tenhamos chegado a esse ponto, o que vemos é uma exposição cada vez mais precoce à sexualidade propagada pela mídia e pela publicidade de forma geral, ficando difícil até mesmo o controle por parte dos pais, já que conteúdos hipersexualizados estão em todos os lugares.

Soma — A pílula do prazer

A letargia e a docilidade da população de Admirável Mundo Novo também é obtida através da distribuição de uma droga chamada “soma”, uma pílula que causa um êxtase instantâneo e ausência de qualquer tipo de sofrimento psicológico.

Bom, e quase um século depois do livro, não há pílula única que cumpra exatamente esse papel, mas, sim, uma variedade de psicofármacos como antidepressivos, ansiolíticos, opioides e canabinóides, muitas vezes sendo usados de maneira indiscriminada e ministrados em dose diária para neutralizar angústia ou tristeza. 

O problema não é o uso desses medicamentos com acompanhamento médico para tratar problemas mais graves, mas o que deveria servir como uso temporário, muitas vezes causa dependência devido ao uso prolongado e vários efeitos colaterais. Em 2023, o mercado farmacêutico brasileiro atingiu um faturamento de aproximadamente R$ 142,43 bilhões de reais.

Além disso, um dos medicamentos mais vendidos no Brasil em 2024 foi a tadalafila, com cerca de 31,1 milhoes de caixas comercializadas só no primeiro trimestre de 2024. O medicamento que é usado para tratar disfunção erétil e hipertensão pulmonar, é erroneamente usado, principalmente entre os jovens, para desempenho muscular e sexual.

Outra forma que o “soma” de Admirável Mundo Novo está presente nas nossas vidas é através das redes sociais,que oferecem alívio imediato, distração constante e recompensas rápidas que ocupam o lugar do pensamento crítico e do contato real com o sofrimento.

O soma proporciona prazer imediato. As redes sociais fazem isso por meio de curtidas, comentários, notificações e vídeos curtos, que ativam o sistema de recompensa cerebral.

No livro, sempre que os personagens enfrentam alguma crise ou desconforto, tomam uma pilula de soma. Hoje, diante de solidão, tristeza, ansiedade ou tédio, é comum recorrer automaticamente ao celular.

O principal alerta de Aldous Huxley em Admirável Mundo Novo é o de que a tecnologia pode ser usada não para libertar o ser humano, mas para controlá-lo de forma sutil, indolor e até desejada.

Diferente da opressão explícita representada por regimes totalitários, como em 1984 de George Orwell, Huxley nos mostra um mundo onde as pessoas são condicionadas desde o nascimento a adorar sua servidão, e o avanço tecnológico é a principal ferramenta desse condicionamento.

“Talvez a maior lição da história seja a de que ninguém aprendeu as lições da história.”

Frase atribuída à Aldous Huxley.

Fahrenheit 451

O último livro da lista é Fahrenheit 451, escrito por Ray Bradbury e publicado em 1953. Este talvez seja o romance distópico que mais permanece atual e até profético em vários aspectos.

O romance retrata um mundo onde os livros são proibidos e os “bombeiros”, em vez de apagar incêndios, têm a função de queimar todos os livros que ainda restam na humanidade. 

No entanto, o governo totalitário de Fahrenheit não encontra tantas dificuldades em cumprir com esse objetivo, pois a sociedade descrita no livro se tornou viciada em entretenimento e no consumo de mídias rápidas, como manchetes de notícias e músicas com ritmos repetitivos.

As pessoas vivem distraídas, incapazes de pensar criticamente ou estabelecer vínculos verdadeiros porque não sabem o que está se passando dentro delas mesmas, já que não conseguem se expressar por causa da falta de leitura e de vocabulário. Até mesmo o sofrimento é neutralizado por pílulas e distrações.

Controle pela indiferença

E os livros em Fahrenheit 451 são temidos justamente por conter ideias divergentes e por fomentar a individualidade. Quando são queimados, perdem-se não só informações, mas toda uma cultura, história e identidade, fazendo com que fique cada vez mais difícil fazer comparações históricas e verificar se as coisas que o governo faz é certo ou errado.

Os cidadãos de Fahrenheit 451, por exemplo, não sabem que os bombeiros antigamente eram treinados para salvar pessoas e apagar incêndios.

O livro continua atual porque fala menos sobre um futuro distópico e mais sobre tendências humanas que são atemporais, como o conforto da ignorância, o poder anestésico do entretenimento e a fragilidade da memória.

Talvez um dos trechos do livro que mais definem nosso tempo seja esse:

“Encha as pessoas com dados indestrutíveis, entupa-as tanto com ‘fatos’ que elas se sintam empanturradas, mas absolutamente ‘brilhantes’ quanto à informações. Assim, elas imaginam que estão pensando, terão uma sensação de movimento sem sair do lugar.”

Ray Bradbury, Fahrenheit 451.

Vivemos em um tempo de vídeos curtos, leituras rápidas e conteúdos fragmentados, com foco no consumo rápido e imediato da informação. Numa sociedade com tantos estímulos e recompensas rápidas, não há nenhum incentivo para ler livros e procurar por conteúdos mais profundos. Dessa forma, a população vai se escravizando por vontade própria, ou pela falta de vontade.

As redes sociais, com algoritmos que favorecem o sensacionalismo e o conteúdo emocional, têm contribuído para o esvaziamento da atenção e da profundidade.

A crise da leitura é evidente: o tempo gasto com telas ultrapassa em muito o tempo dedicado à leitura de livros. Há também uma crescente desvalorização da filosofia, da literatura e das artes em prol de formações técnicas e utilitárias, pois em um mundo onde há produtividade e a atenção é a principal moeda de troca, atividades especulativas são vistas como perda de tempo.

A memória coletiva se fragmenta em memes, notícias falsas, desinformação e obsolescência acelerada da informação. Basta, por exemplo, que um conteúdo vá para a segunda página de pesquisa do Google para ele ser considerado irrelevante e invisível. Com isso, muitas pessoas substituem o pensamento crítico pela opinião pronta, copiada de influenciadores ou bolhas ideológicas.

Uma coisa interessante é que, em 1984 de George Orwell, o Grande Irmão usa um sistema de controle chamado Novilíngua, um programa do governo que consiste em reduzir e eliminar o máximo de palavras possíveis do vocabulário das pessoas para impedirem de expressar o pensamento. As frases devem ser curtas, com palavras técnicas, funcionais e sem ambiguidade.

O livro descreve a Novilíngua, ou Novafala, da seguinte forma:

“O vocabulário da Novafala foi elaborado de modo a conferir expressão exata a todos os significados que um membro do Partido pudesse querer apropriadamente transmitir, ao mesmo tempo que excluía todos os demais significados. Para tanto, recorreu-se à criação de novos vocábulos e, sobretudo, à eliminação de vocábulos indesejáveis […] Vejamos um exemplo. A palavra ‘livre’ continuava a existir em Novafala, porém só podia ser empregada em sentenças como: ‘O caminho está livre’ ou: ‘O toalete está livre’. Não podia ser usada no velho sentido de ‘politicamente livre’ ou ‘intelectualmente livre’, pois as liberdades políticas e intelectuais já não existiam nem como conceitos, não sendo, portanto, passíveis de ser nomeadas.“

George Orwell, 1984.

O governo queria chegar a tal ponto onde qualquer pensamento que fosse contrário à ideologia do partido fosse impossível de ser expressado, o que tornaria qualquer tipo de rebelião inconcebível. Se não existisse uma palavra como “revolução”, por exemplo, nenhuma revolução poderia ser feita.

Porém, o governo de Fahrenheit 451 faz algo mais sorrateiro. A população, à medida que perde o interesse pela leitura e pelos livros, perde por si só a capacidade de expressar seus pensamentos e sentimentos de forma mais clara, ficando cada vez mais incapacitados de abstrair ideias e formular imagens ou encontrar situações semelhantes na literatura pelas quais estejam passando.

Com isso, apesar do enorme abismo que sentem, não conseguem encontrar nenhum amparo nas histórias e tentam se distrair com entretenimento, aumentando cada vez mais a sensação de vazio e deixando de se conectar verdadeiramente com os outros.

Vendo através dessa perspectiva, há diversas maneiras de queimar os livros. Uma dessas formas é simplesmente não os lendo, vendo-os como algo ultrapassado e como algo demorado demais para absorver, preferindo procurar resumos, manchetes e até mesmo pedir para um inteligência artificial resumir o conteúdo. Para queimar os livros hoje em dia, basta simplificar o seu conteúdo, exatamente como descrito em Fahrenheit:

“A escolaridade é abreviada, a disciplina relaxada, as filosofias, as histórias e as línguas são abolidas, gramática e ortografia pouco a pouco negligenciadas, e, por fim, quase totalmente ignoradas. A vida é imediata, o emprego é que conta, o prazer está por toda parte depois do trabalho. Por que aprender alguma coisa além de apertar botões, acionar interruptores, ajustar parafusos e porcas?”

Ray Bradbury, Fahrenheit 451.

Para Ray Bradbury, o maior perigo para a liberdade não é só a censura estatal, mas o desinteresse voluntário pelo conhecimento.

Conclusão

No final, George Orwell, Aldous Huxley e Ray Bradbury escreveram obras distópicas com advertências distintas, porém complementares, sobre os caminhos que a sociedade poderia tomar diante do avanço da tecnologia, da política autoritária e da cultura de massa. Embora cada um foque em uma forma diferente de opressão, os três compartilham uma preocupação central: a perda da liberdade humana.

Orwell temia um mundo onde a verdade seria escondida. Huxley temia um mundo onde ninguém se importaria com a verdade. Bradbury temia um mundo onde a verdade seria banalizada e esquecida.

Juntos, os três autores nos alertam que a liberdade, o pensamento e a cultura são frágeis — e que o maior perigo nem sempre é a tirania explícita, mas a apatia coletiva, o excesso de conforto e a ausência de reflexão.

Não à toa, muitos regimes totalitários do século XX ascenderam ao poder, não somente através da força bruta, mas também através da conformidade voluntária ou passiva de grandes parcelas da população. Esse processo foi complexo e envolveu propaganda massiva, apelos emocionais, uso do medo, manipulação ideológica e esvaziamento do pensamento.

E o que essas distopias fazem é nos informar, de forma satírica, o que pode acontecer quando não sabemos o que fazer com a nossa liberdade. 

Todos os livros comentados nesse vídeo tem um vídeo dedicado especialmente para ele. Você pode encontrá-los na playlist “distopias”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima