Se quiser crescer, seja desleal à sua mãe — Complexo Materno
Transcrição do vídeo
Introdução
Há um certo provérbio medieval onde diz que é possível uma pessoa alcançar um estado de bem-estar supremo, chegar a uma serenidade perfeita, ou sentir todo o esplendor de Deus, por duas vezes na vida: a primeira na adolescência, por volta dos 15/16 anos, e a segunda, por volta dos 40/50 anos.
Na primeira experiência, na adolescência, o homem tem um pequeno vislumbre dessa sensação, mas por não saber muito bem o que é, já que é muito jovem, sem muita sabedoria, quando ela finalmente se perde de sua visão, ele sai à sua procura, na ânsia de reencontrar aquela beleza que foi apenas vislumbrada. Ele, então, não consegue viver da mesma forma que antes.
Sua obstinação o força a perseguir esse êxtase incansavelmente. Ele tenta procurar nos relacionamentos com as mulheres, na carreira profissional, ou nos objetos materiais que conquista. No entanto, o mundo, de certa forma, sabe que o homem anseia encontrar algo e, jogando com o seu desejo, tenta confundi-lo com técnicas e propagandas, mostrando a ele que essa beleza pode ser alcançada através da promiscuidade e dos prazeres carnais irrestritos, do consumo de drogas ou da aquisição de cada vez mais bens-materiais.
O homem que tenta encontrar atalhos através de vias erradas e tenebrosas, termina em um sofrimento sem sentido ou numa loucura extrema. No entanto, aqueles que ainda persistem, chegam aos 40 ou aos 50 anos totalmente desiludidos de que algo vai dar conta de preencher aquela ânsia que eles ainda nem sabem bem o que é. E é aí, na metade da vida, que eles se dão conta de que nada ou ninguém preencherá esse vazio. Eis que, então, começa a verdadeira mudança de consciência.
Essa visão que temos na adolescência e que passamos o resto da vida tentando reencontrar é descrita, através de um conto medieval, como sendo a visão do Castelo do Graal, um reino mágico onde se encontra o cálice usado por Jesus Cristo na Última Ceia. No conto, Parsifal, um dos cavaleiros da Távola Redonda do Rei Artur, aos 15 anos, vê pela primeira vez o Castelo do Graal — símbolo máximo de plenitude e sentido — e, mesmo fascinado, não consegue chegar a ele. Três décadas depois, já com 40 anos, a visão retorna. O castelo continua ali, imóvel, mas Parsifal, já desfeito do seu complexo materno que o deixava indeciso diante da vida, com o peso da maturidade e das inúmeras lutas que travou com outros cavaleiros e ladrões, finalmente consegue fazer a pergunta sagrada que não conseguira fazer na primeira vez em que viu o Castelo do Graal, devido a sua inexperiência. E a pergunta é: “a quem serve o Graal?”
Essa é pergunta da vida de Parsifal e, simbolicamente, a pergunta da vida de cada homem. Uma pergunta que ele demorou 40 anos para dizer.
Para compreender o porquê dessa pergunta, e entender como a lenda de Parsival conversa diretamente com todos os homens da nossa época, mesmo se tratando de um mito da Idade Média, fique comigo até o final do vídeo, tenho certeza que muitas questões que você tinha sobre indecisão, relacionamentos e frustração, vão ficar mais claras.
Capítulo 1: A Ferida do Rei Pescador: a dor que inaugura a consciência masculina
Na lenda do Graal, tudo começa com uma ferida profunda e incurável. O Rei Pescador, governante do Castelo do Graal, onde está guardado o Santo Graal, foi ferido de uma maneira peculiar. Roberto Johnson, um terapeuta junguiano, em seu livro chamado HE, que trata sobre os simbolismos da lenda do Graal, conta como o Rei Pescador adquiriu a ferida:
“Na adolescência, [o Rei Pescador] estava percorrendo os bosques quando deparou com um acampamento abandonado. Curiosamente, havia um salmão sendo assado no espeto. Faminto, serviu-se de um pedaço sem perceber que estava muito quente. Deixou o peixe cair e levou os dedos à boca para aliviar a dor. Ao fazê-lo, pôde sentir um pouco o gosto do salmão, um gosto que jamais poderá esquecer […] O homem que sofre, hoje, em nossos dias, é o herdeiro direto desse evento psicológico.”
Robert A. Johnson, He.
Essa ferida simboliza um trauma existencial, algo que muitos homens conhecem, mesmo que não possam nomear claramente. Essa ferida original é a porta de entrada que desperta a consciência masculina: o sofrimento da ferida marca o despertar da consciência, ela sinaliza uma dor primordial que, se não for entendida, resulta numa vida superficial, atormentada por angústias e indecisões constantes. Robert Johnson escreve que:
“O salmão, ou o peixe, é um dos símbolos de Cristo. Como na história do Rei Pescador, que descobre o salmão sendo assado, um garoto, nos primórdios de sua adolescência, toca algo da sua natureza crística, só que o faz sem nenhum preparo. O primeiro lampejo de consciência no jovem aparece sob a forma de uma ferida ou um sofrimento.”
Robert A. Johnson, He.
Para cada homem existe uma “ferida do Rei Pescador” particular, uma dor inicial que molda toda sua jornada psíquica. Talvez seja o afastamento do pai, uma expectativa não cumprida, uma injustiça que sofreu, ou até mesmo uma desilusão amorosa inicial. Essa ferida gera uma busca contínua por significado, alimentando uma sensação permanente de incompletude.
Existe uma outra versão da história do Rei Pescador que nos ajuda a compreender melhor essa ferida psíquica. Ela diz o seguinte:
“Em outra versão, o Rei Pescador é ferido por uma flecha que lhe trespassa os testículos. A flecha não pode ser retirada, em nenhuma direção — nem para frente, para que passe por inteiro, nem para trás, pois isso o dilaceraria. Outra vez ele é descrito como muito enfermo para viver, mas ao mesmo tempo não tão ferido que possa morrer.”
Robert A. Johnson, He.
A flecha não mata; ela estagna, produzindo um estado simbólico de dor constante que paralisa a criatividade e empobrece o reino interior. Vemos esse fenômeno quando jovens, logo após o primeiro abalo amoroso ou a primeira injustiça, perdem a confiança fundamental no fluxo da vida e mergulham numa apatia que nada parece curar.
O mito insiste em mostrar que essa dor não é defeito, mas, sim, um rito de passagem. Todo adolescente recebe sua ferida-Rei-Pescador. A ferida inaugura a consciência; rasga o véu protetor do complexo materno e obriga o eu nascente a reconhecer que o mundo não é só aconchego. No entanto, quando essa ruptura não é elaborada e dada a devida atenção, a flecha se transforma em ressentimento crônico: o rapaz cresce fisicamente, mas a masculinidade emocional fica presa à mãe psíquica, revivendo a dependência infantil em relacionamentos afetivos, no emprego ou nas compulsões digitais. O Reino do Graal torna-se um campo infértil onde nada floresce, mesmo cercado de confortos materiais.
Assim como Peter Pan, o indivíduo se prende à adolescência, com medo de crescer. Marie-Louise von Franz descreve essa condição como a do Puer Aeternus, ou a eterna criança. Ela escreve que:
“Em geral, o homem que se identifica com o arquétipo do puer aeternus permanece durante muito tempo como adolescente, isto é, todas aquelas características que são normais em um jovem de dezessete ou dezoito anos continuam na vida adulta, juntamente com uma grande dependência da mãe, na maioria dos casos […] a imagem da mãe — a imagem da mulher perfeita que tudo dá ao homem, e que não tem nenhum defeito — é procurada em todas as mulheres. Ele procura uma mãe-deusa, portanto, cada vez que se apaixona por uma mulher, mas logo descobre que ela é um ser humano comum.”
Marie-Louise von Franz, Puer Aeternus.
A solução não está em negar a ferida nem em buscar paliativos exteriores, mas em aproximar-se dela com curiosidade consciente. O Rei Pescador só encontra alívio enquanto pesca — que é uma imagem de descer às águas profundas da própria alma para “dar prosseguimento à tarefa da conscientização”. Do ponto de vista psicológico, isso significa sentar-se com a dor, nomear o que foi perdido e perguntar a si mesmo: “De que realmente preciso agora?” A interrogação rompe o silêncio que sustenta o encantamento. Perguntar é admitir vulnerabilidade e, simultaneamente, reivindicar autoridade sobre a própria história.
Assim como o Rei Pescador, os homens ficam presos num limbo interior, incapazes de curar-se ou encontrar real satisfação, pois ainda não compreenderam que a solução para essa dor não está nas conquistas externas, mas sim no despertar consciente para o mundo interno. Há, então, uma sabedoria escondida na flecha: ela mantém a ferida aberta até que o homem esteja disposto a atravessar o limiar da infância tardia e suportar a incerteza de viver sem garantias maternas.
Capítulo 2: Parsifal e o Complexo Materno
É aqui que começamos a conhecer Parsifal, que mais tarde se tornará um cavaleiro da cúpula do Rei Artur. Parsifal cresceu em um canto esquecido do mundo, isolado pela mãe, que o veste com uma túnica grossa tecida à mão e o mantém longe de qualquer notícia sobre cavalaria ou bravura.
Tudo muda numa tarde em que cinco cavaleiros surgem perto de sua casa, como contado por Robert Johnson:
“Eles cavalgam usando todos os seus equipamentos: atavios vermelhos e dourados, armadura, escudos, lanças, tudo, enfim, que a Cavalaria adotava. Ofuscam o pobre Parsifal de tal maneira que ele sai correndo para contar à mãe que vira cinco deuses. A visão fora tão maravilhosa que ele quase explode de emoção e decide partir imediatamente para juntar-se a tão magníficos reis.”
Robert A. Johnson, He.
A visão acende nele a primeira chama: a certeza de que existe um destino maior do que o aconchego materno, maior do que ele mesmo, algo tão luminoso que sua vida primitiva não é capaz de conter.
Isso porque acabamos por descobrir que seu pai havia sido um cavaleiro que morreu ao tentar salvar uma donzela, e sua mãe fez de tudo para esconder esse fato de Parsifal. Mas, como nos conta Robert Johnson:
“A mãe chora convulsivamente depois de perceber que nada poderia fazer para dissuádi-lo de seguir as pegadas do pai […] Ela havia feito de tudo para ocultar dele sua linhagem, mas mãe nenhuma consegue manter o filho longe do perigo quando o sangue do pai começa a ferver em suas veias.”
Robert A. Johnson, He.
Em termos práticos e simbólicos, a importância do pai reside em ajudar o filho a sair da esfera do instinto puro para o campo da escolha consciente — fazendo da agressividade força criadora, do desejo de aventura um caminho de propósito e da ligação com a mãe um vínculo de amor adulto em vez de dependência infantil. É ele quem retira o filho da ligação simbiótica com a mãe, permitindo que perceba a alteridade, isto é, o outro.
A mãe percebe que perdeu o controle do rapaz no exato instante em que ele decide seguir aqueles cavaleiros. Em desespero — e num gesto típico de um complexo materno que mistura amor e possessividade — ela tenta manter algum vínculo pela via da obediência, apesar de deixa-lo partir. Ela oferece a Parsifal conselhos que funcionarão como feitiços ambivalentes sobre a psique do filho. Os conselhos são:
“Que respeitasse sempre as donzelas; que fosse à igreja de Deus sempre que necessitasse de alimento; e que nunca fizesse muitas perguntas.”
Robert A. Johnson, He.
É esta última ordem — ou seja, “não perguntar” — que arruinará o momento em que Parsifal vislumbra Castelo do Graal e não consegue dizer a pergunta mágica, isto é, “a quem serve o Graal?”, mostrando como uma recomendação materna pode transformar-se em trava existencial quando aceita sem reflexão e discernimento masculino.
Jung aponta que nenhum homem se torna adulto sem certa “deslealdade” simbólica à mãe. Ele escreve que:
“Um indivíduo é infantil porque se libertou insuficientemente ou não se libertou do ambiente da infância, isto é, da adaptação aos pais, razão por que reage perante o mundo como uma criança perante os pais, sempre exigindo amor e recompensa afetiva imediata. […] Ele não é capaz de viver como ele mesmo e encontrar sua própria personalidade.”
Carl Jung, Símbolos da Transformação.
Esse ato de deslealdade não é crueldade; é uma separação necessária. Quando o filho recusa a ruptura, a coragem externa vira bravata, isto é, mera ostentação disfarçada de insegurança e, por dentro, permanece o menino que teme desapontar o útero psíquico. Parsifal precisa, portanto, sair — e falhar — repetidamente até descobrir que a verdadeira fidelidade não é permanecer junto da mãe, mas tornar-se inteiro o bastante para voltar a ela livre de culpas. A mãe, por outro lado, também precisa suportar esse “golpe” em seu coração se ela quiser que o filho cresça. Jung escreve que:
“Não se vive por um período excessivamente longo no ambiente infantil, no seio da família, sem certo perigo para a saúde mental. A vida chama o indivíduo para a independência, e quem não atender a este chamado, por comodidade e temor infantis, está ameaçado de neurose.”
Carl Jung, Símbolos da Transformação.
Nesse primeiro chamado, o jovem herói representa todos nós quando percebemos que o futuro exige ultrapassar a segurança aprendida em casa. O brilho dos cavaleiros simboliza ideais que, à distância, parecem divinas; o desafio é atravessar essa miragem sem negar a origem. O complexo materno não se vence com ingratidão, mas com a coragem de reconhecer a parte infantil que ainda veste roupas velhas sob a couraça adulta. Só então a pergunta mágica poderá ser dita sem medo — e o caminho em direção ao Graal começará, de fato, a ser trilhado.
Capítulo 3 – A Sombra e o Cavaleiro Vermelho
Durante sua trajetória, Parsifal encontra-se frente a frente com o Cavaleiro Vermelho — uma figura imponente e alta, trajando armadura e túnica escarlates. A armadura do Cavaleiro Vermelho não é mera extravagância; ela anuncia a força bruta da agressividade masculina, aquele combustível biológico que pode tanto construir pontes como destruir uma civilização inteira.
Ingênuo, Parsifal ousa pedir que o adversário lhe entregue o cavalo e a armadura. O conto continua da seguinte forma:
“Divertido com a pretensão do jovem, [o Cavaleiro Vermelho] responde-lhe com uma gargalhada: ‘Ótimo, se puderes consegui-los!’. Depois de um breve combate, Parsifal é atirado ao solo, mas, enquanto caído, atira sua adaga e mata o Cavaleiro Vermelho, atingindo-lhe o olho.”
Robert A. Johnson, He.
Esse golpe desferido no olho não é mera sorte. Há inúmeros casos mitológicos que relatam esse motivo. Na psicologia simbólica, cabeça e olhos representam a parte mais alta da energia masculina — a consciência solar que “vê, julga e discrimina”. Ferir ou cegar essa área corresponde a ferir o princípio que governa a visão unilateral do ego.
O psicoterapeuta junguiano Erich Neumann escreve que:
“Olhar e reconhecer são as funções características da consciência; a luz e o sol são os fatores celestes transpessoais que constituem a sua condição superior; o olho e a cabeça são os órgãos físicos ligados à discriminação consciente. Por essa razão, na psicologia simbólica, o espírito-alma provém do Céu e, no esquema psíquico do corpo, é adjudicado à cabeça, da mesma maneira como a perda dessa alma espiritual é representada mitologicamente como cegueira, morte do cavalo solar ou queda na terra ou no mar; isso quer dizer que a derrubada da masculinidade é o caminho da regressão.”
Erich Neumann, A História das Origens da Consciência.
Neumann observa que mitos de cegueira ou decapitação são equivalentes a uma castração feita “em cima e não embaixo”: um ato que desarma — ou transforma — a arrogância da mente, que se crê toda-poderosa. Ao cravar a adaga no olho do Cavaleiro Vermelho, Parsifal rompe o domínio de uma agressividade inflada que, se continuasse intacta, o cegaria para qualquer outra forma de percepção.
Perceba que, enquanto o Rei Pescador teve sua castração embaixo, isto é, nos testículos, comprometendo sua masculinidade viril, O Cavaleiro Vermelho foi castrado em cima, comprometendo sua masculinidade agressiva.
Todos os homens tem um lado Cavaleiro Vermelho, isto é, pura agressividade instintiva, brutalidade destrutiva e competitividade temerária. É o Cavaleiro Vermelho que aparece quando brigamos no trânsito, digitamos insultos nas redes sociais ou cavamos trincheiras afetivas para não admitir vulnerabilidades. No entanto, essa agressividade deve ser reconhecida, conquistada e posta a serviço do ego, para justamente não se tornar destrutiva.
Robert Johnson comenta que:
“Para tornar-se homem, o garoto precisa dominar sua própria agressividade, essa energia rude e bruta dentro dele. O que também é efetivo. Precisa mesmo saber como ser agressivo, uma vez que há necessidade de sê-lo, mas de uma forma controlada, para que tal energia esteja a seu dispor conscientemente. Deixar-se vencer pela ira e pela violência não é bom sinal, pois mostra que sua masculinidade ainda não está formada.”
Robert A. Johnson, He.
Na cena seguinte, Parsifal tenta vestir a armadura conquistada do Cavaleiro Vermelho, ou seja, ele reconhece sua agressividade primitiva, mas não quer tirar a túnica feita pela sua mãe. A imagem expõe o dilema típico de muitos adultos: fora, ostentam títulos, músculos ou diplomas; por dentro, ainda vestem a roupa de menino que teme desapontar a mãe — tanto a mãe real quanto a que ele internalizou. Enquanto o menino não se desfizer da sua túnica, ou seja, do seu complexo materno, toda bravura permanece incompleta.
Na história de Parsifal, é Gournamond, seu padrinho, quem o ajuda a retirar sua túnica do complexo materno. A figura do pai é essencial na vida de um filho, porém, quando o pai se encontra ausente ou sua figura já está um pouco desgastada, o adolescente persegue outras figuras que dê continuidade ao seu processo de desenvolvimento. É nesse estágio que é preciso tomar muito cuidado com as figuras paternas que escolhemos, já que, na adolescência, somos mais influenciáveis e predispostos ao erro. Robert Johnson comenta que:
“Gournamond é o padrinho arquetípico e passa um ano preparando Parsifal nos caminhos da fidalguia. Um padrinho é uma benção para um garoto quando este está se transformando num homem! […] o adolescente está longe da independência, mas, por outro lado, muito orgulhoso para se aproximar do pai e aconselhar-se com relação aos seus problemas íntimos. […] É, portanto, nessa fase que o garoto necessita da um padrinho, um homem que vai dar continuidade ao seu processo de treinamento.”
Robert A. Johnson, He.
É, inclusive, Gornamound quem aconselha Parsifal a jamais seduzir ou deixar-se ser seduzido por uma donzela e que o prepara para fazer a pergunta mágica diante do Castelo do Graal, construindo nele a força necessária para aguentar o peso da pergunta.
Desse modo, a luta com o Cavaleiro Vermelho convida-nos a dois movimentos simultâneos: reconhecer a agressividade como potência vital e depurar o vínculo maternal que ainda nos veste por baixo da armadura. Só então a armadura recém-recebida servirá para abrir caminhos, não para repetir as feridas do passado. Quando a sombra encontra um ego maduro, torna-se coragem criativa; quando o ego ainda veste a túnica da infância, ela volta como violência contra si mesmo ou contra o mundo.
Robert Johnson comenta que:
“Visto pelo ângulo do descontrole da agressividade, o Cavaleiro Vermelho é a sombra da masculinidade […] E para realmente tornar-se um homem, a personalidade-sombra precisa ser trabalhada; não pode ser reprimida”.
Robert A. Johnson, He.
A sombra representa a parte da nossa psique com a qual talvez nos sintamos pouco a vontades. É aquela parte que queremos esconder dos outros e de nós mesmos. Os homens carregam uma sombra de poder que irrompe sempre que se sentem ameaçados. A competitividade se manifesta quando essa ameaça é percebida. Embora ela seja útil para o crescimento do homem até um certo ponto, se a sombra do poder não for trabalhada, o homem viverá com medo constante da vida, tentando camuflar suas falhas com um manto de ostentação, humilhação de terceiros ou destruição. O terapeuta junguiano James Hollis escreve que:
“O homem que se vangloria do seu carro, da sua casa enorme, ou do seu cargo ou posição importante certamente está tentando compensar seu sentimento de inferioridade […] Sob a exibição de poder está o complexo; sob o complexo encontra-se o medo.”
James Hollis, Sob a Sombra de Saturno.
No fim, Parsifal parte carregando a energia vermelha do adversário, mas também o lembrete tácito de que a armadura exige um coração suficientemente amadurecido para não confundir força com brutalidade. Integrar a sombra é aprender a ajoelhar-se diante dela, não para adorá-la, mas para ouvir o que esse poder incendiário quer transformar em nós — e só então empunhar a espada sem medo de quebrá-la na primeira batalha importante.
Mas, para isso, é necessário compreendermos outro elemento vital da nossa psique.
Capítulo 4 – Branca Flor e a Mulher Interior que vive no homem
Outro ponto da trajetória de Parsifal, já ornado pela armadura vermelha que conquistou, é quando ele encontra o castelo da princesa chamada Branca Flor. Robert Johnson escreve:
“Parsifal nunca mais torna a ver a mãe, que está morta, mas, iniciada a viagem de volta, vê o castelo de Branca Flor, a quem encontra em verdadeiro desespero, pois seu castelo está sitiado; a jovem lhe implora que resgate seu reino, prometendo-lhe céus e terras […] É servindo Branca Flor que Parsifal se dá conta de sua tarefa heroica; ela é sua amada e sua inspiração, o núcleo da ação heroica que está em tudo que ele realiza daí para a frente.”
Robert A. Johnson, He.
A perda da mãe se converte num encontro com o feminino interior; a antiga busca por acolhimento cede lugar ao chamado de servir — não à mãe real, mas a uma presença que vibra no fundo do coração masculino.
Essa presença feminina no interior do homem é a anima. É ela que justamente anima o homem e lhe causa inspiração para a vida. No livro o “Homem e Seus Símbolos”, Marie-Louise von Franz nos fornece uma definição clara da anima:
“Anima é a personificação de todas as tendências psicológicas femininas na psique do homem — os humores e sentimentos instáveis, as intuições proféticas, a receptividade ao irracional, a capacidade de amar, a sensibilidade à natureza e, por fim, mas não menos importante, o relacionamento com o inconsciente.”
Marie-Louise von Franz/Carl Jung, O Homem e Seus Símbolos.
Vista como a feminilidade do homem, ela é o âmago de inspiração e que dá sentido às coisas, e que foi personificada na figura de Branca Flor na história de Parsifal, mas também é a Dulcinéia na história de Dom Quixote, ou a Beatriz na Divina Comédia de Dante, ou o entendimento que temos a respeito dos nossos sentimentos e humores.
O relacionamento que o homem tem com a sua anima é responsável pelo controle que o homem tem sobre os seus humores. E aqui a história exige que façamos uma distinção de feeling (ou sentimento) e humores. Robert Johnson vai nos ajudar:
“Ser presa de algum tipo de humor é ser dominado ou possuído pela feminilidade interior. Feeling vem de sentir, e sentir é a sublime arte de ter uma estrutura de valores e um sentido para o significado das coisas. Os humores impedem o real feeling.”
Robert A. Johnson, He.
Em outras palavras, quando o homem está consumido por algum tipo de humor, seja um bom ou mau humor, ele está possuído pela sua anima. Ele, ou se exalta, perdendo o senso de proporção do seu comportamento, ou se ressente, sendo atacado por um diálogo interior que o deixa indeciso. Ele se tornou, nas palavras de Robert Johnson, uma “mulherzinha ranhenta”; é quando o homem está dominado pelo complexo materno, quando fica indeciso quanto ao que precisa fazer ou dependente de um apoio emocional extremo.
A possessão da anima no homem também é manifestada através de fantasias eróticas. Como escreve Marie-Louise von Franz:
“Os homens podem ser levados a alimentar essas fantasias no cinema, nos shows de strip-tease ou nas revistas e livros pornográficos. É um aspecto primitivo e grosseiro da anima, mas que só se torna compulsivo quando o homem não cultiva suficientemente suas relações afetivas — quando a sua atitude para com a vida mantém-se infantil.”
Marie-Louise von Franz/Carl Jung, O Homem e Seus Símbolos.
Para sair desse estado, o homem precisa estabelecer um diálogo consciente com essa figura interior que o domina. Na história de Parsifal, após libertar o castelo de Branca Flor, Parsifal se deita com ela em total castidade, num abraço que sela sua aliança interior sem confundir fantasia com carne. O mito não está prescrevendo ascetismo matrimonial; apenas lembra que a força criativa que a anima oferece morre quando projetada integralmente na parceira externa — ou seja, na mulher real —, e que a parceira externa sofre quando se espera dela o papel de Graal. Quando o homem cultiva essa conversa silenciosa com Branca Flor, ou seja, com sua anima, sem seduzi-la ou deixar ser seduzido por ela, descobre um eixo de sentido que não depende dos aplausos do mundo nem de humores de euforia ou melancolia. O fogo que antes ardia começa a forjar propósito.
E foi aqui que o conselho de sua mãe fez sentido, isto é, o de que respeitasse sempre as donzelas, mas o peso maior foi o conselho dado por Gournamond, o de que nunca seduzisse ou deixasse ser seduzido por elas, mas agora entendemos que esses conselhos se tratam, na verdade, em como lidamos com a nossa donzela interior, nossa Branca Flor, nossos humores, nossa anima.
É só quando o homem dedica um tempo com essa mulher interior que a distinção entre sentimento e humor fica mais clara para ele. O sentimento é necessário, mas em muitos homens ele é negligenciado. O resultado é a projeção desse aspecto nos seus relacionamentos, o que pode causa uma dependência emocional ou leva-lo a um estado difuso de irritação. Robert Johnson escreve que:
“Os humores impelem o indivíduo a buscar coisas ou pessoas de fora na tentativa de dar um sentido de valor a algo dentro dele. Não funciona. Qual é o quarto de despejo que não está atulhado, até o teto, de coisas que ele comprou na esperança de que pudessem preencher o vazio de dentro e acabaram descartadas, porque não lhe trouxeram aquilo por que tanto ansiava?”
Robert A. Johnson, He.
Quando temos uma boa relação com nossa anima, temos a força necessária para retirar as nossas projeções das mulheres exteriores na esperança de que os relacionamentos vão, ou nos consertar, ou nos salvar.
É a anima que é responsável pelo pior dos humores nos homens, mas também é a fonte de inspiração e criatividade em sua jornada. É sua vida interior. Se Parsifal confundisse o apelo de Branca Flor com sedução literal, ou seja, se ele enxergasse desejo carnal em cada mulher que ele encontra na vida, ele cai no feitiço de sua anima e perde o seu objetivo de buscar o Graal; se, ao contrário, aprende a ouvi-la como bússola de valores, ele converte inspiração em coragem sustentável. A delicadeza das cenas medievais famosas — a da donzela que deleita e inspira sem ser tocada — simboliza justamente essa fronteira: intimidade psíquica sem possessão. Robert Johnson ressalta que jamais podemos confundir o nosso relacionamento com a anima com o nosso relacionamento com as mulheres reais, pois é isso que causa as projeções:
“Os relacionamentos interiores têm suas leis de conduta inexoráveis; assim como as condutas exteriores também têm as suas, mas diferenciadas. Não as misture.”
Robert A. Johnson, He.
Assim, Branca Flor nos ensina uma lição crucial: a masculinidade só se completa quando aprendemos a escutar o feminino que nos habita — sem se deixar raptar por ele. O feeling, ou seja, o sentimento, transforma impulso em dedicação; humores, ao contrário, sequestram a vontade e nublam o horizonte.
No instante em que Parsifal escolhe servir a algo, e não seduzir ou ser seduzido, ele abre a porta para o próximo limiar da jornada, isto é, o reencontro com o Castelo do Graal, dessa vez equipado com o poder de perguntar — livre do complexo materno.
Capítulo 5 – O Castelo do Graal Perdido e a pergunta fundamental da vida
Vamos agora voltar um pouco ao começo da história de Parsifal. Quando ele decide sair da casa de sua mãe, maravilhado pela presença dos cinco cavaleiros, depois de um tempo, Parsifal tem a visão do Castelo do Graal. Lembremos também que o Rei Pescador é o governante do Castelo do Graal, mas como ele se encontra ferido por causa daquela situação com o salmão, seu reino também está comprometido, já que rei e reino são um só. E só há uma maneira de salvar a todos. Robert Johnson continua:
“O bobo da corte (e toda corte que se preza tem seu bobo) profetizara, havia muito tempo, que o Rei Pescador se curaria quando um perfeito tolo, totalmente ingênuo, chegasse à corte e fizesse uma pergunta bem específica.”
Robert A. Johnson, He.
Essa figura ingênua, claro, é Parsifal.
No percurso da jornada do herói – que inclui a ferida, a sombra, a anima, e o Graal – a figura do Bobo surge sempre que o herói se leva a sério demais. Ele lembra que a vida inclui falha, paradoxo e humor; sem isso, a energia masculina endurece em dogma ou em agressão. O Bobo é o demolidor de certezas, que devolve flexibilidade e humor à vida.
O mito sugere que somente a parte ingênua e inocente do rei pescador vai curá-lo:
“Se alguém pretende curar-se deverá reencontrar algo no seu interior que tenha a mesma idade e a mesma mentalidade de quando foi ferido […] Para realmente sarar ele precisa permitir a entrada em seu inconsciente de algo completamente diferente dele mesmo, para que esse algo o venha a mudar […] Por essa razão a parte jovem-tolo que o constitui deve entrar em sua vida se ele realmente quiser sarar.”
Robert A. Johnson, He.
Quando essa mudança de consciência acontece, é como se um novo ser nascesse em nossa psique. Esse novo ser é simbolizado pelo arquétipo da criança interior. A criança representa o potencial futuro, a promessa de algo, é ela quem carrega um novo insight, um novo sonho ou uma nova ideia na nossa mente, que precisa ser cuidada e alimentada para crescer forte e saudável, assim como uma criança.
A terapeuta junguiana Edith Sullwold escreve que:
“O arquétipo da criança interior, portanto, pode oferecer uma sensação de esperança diante dos becos sem saída da nossa história pessoal e mundial. Ele nos lembra do tempo em que tudo começou, do momento da criação, do novo, do inesperado, da diferença individual que muda o conjunto. Essa é a promessa do ‘experimento inédito’, a promessa da criança interior.”
Edith Sullwold, O Redespertar da Criança Interior.
Mas lembremos também que Parsifal encontra o Castelo do Graal aos quinze anos de idade. Ele é recebido pela corte do Rei Pescador como sendo o menino que salvará o reino. Eles, então, hospedam Parsifal para que descanse e se recomponha. No entanto, quando Parsifal acorda na manhã seguinte ao banquete do Graal, o castelo sumiu e tudo que ele vê é floresta e neblina. Nada mudou ― exceto a sensação de que algo imenso foi perdido. A causa da expulsão é simples: o conselho da mãe prevalece e ele fica mudo diante do esplendor do Castelo do Graal. O silêncio imposto por um complexo materno, que proíbe perguntas, que o deixa em dúvidas, que faz sua anima o possuir, sufoca a única palavra capaz de curar o Rei Pescador; o milagre, então, não ocorre, e o mundo interior permanece estéril.
Assim como Parsifal abandona o castelo com o coração incendiado de perguntas não feitas, muitos de nós saímos da adolescência levando na bagagem sonhos queimados pelo temor de agir. Mas a chama que fere é a mesma que ilumina; ela persiste como um lembrete incômodo de que o convite do Graal continua válido. Reconhecer esse chamado — seja em terapia, numa crise de meia-idade ou num simples momento de honestidade radical — é o primeiro passo para transformar a dor estéril em fonte criativa, restaurando a fertilidade do reino interior.
Daí em diante, a lenda dá um salto abrupto:
“Parsifal partiu do Castelo do Graal […] envolve-se numa longa série de aventuras […] e isso vai fortalecê-lo o suficiente para que possa pedir sua segunda entrada no castelo”.
Robert A. Johnson, He.
O próprio texto chama esse intervalo de anos estéreis ― que são os vinte anos de façanhas heroicas sem frutos, de glórias externas que não alimentam a alma. Robert Johnson observa que esse hiato é inevitável enquanto a velha túnica materna não for abandonada:
“Isso significou vinte anos arduamente gastos […] até que Parsifal conseguisse despir essa roupa e chegasse a ser um homem suficientemente forte para suportar a beleza do Graal”.
Robert A. Johnson, He.
E são esses anos que todos os homens passam durante a vida: sentindo que não estão evoluindo, estagnados ou arrependidos das escolhas que fizeram.
Estagnação é justamente o preço da pergunta não feita. O reino interior resseca: cavaleiros continuam a morrer, donzelas choram sobre amores despedaçados, e a própria terra ― reflexo da psique ― converte-se em deserto. O mito não castiga com tragédia; ao contrário, o preço de não olhar para dentro é a repetição dos padrões que não consigamos nos soltar. Cada proeza de Parsifal ecoa a anterior, como se a história girasse em círculos à espera de um instante de consciência que se recusa a chegar.
No fundo, o castelo não desapareceu; só se tornou invisível para quem não ousou tomar a palavra. Assim, os vinte anos de errância de Parsifal funcionam como espelho emocional: cada derrota, cada triunfo vazio, devolve a Parsifal o reflexo daquilo que deixou de dizer. Até que, passados os mais de 30 anos, já marcado pelo peso da armadura, passado os inúmeros combates com o seu Cavaleiro Vermelho interior, os inúmeros diálogos com sua Branca Flor interior, e pela poeira de incontáveis batalhas, ele volta a ver o Castelo do Graal aos quarenta anos ― exatamente no mesmo lugar em que estava aos quinze.
Nessa segunda visão, a paisagem é idêntica; quem mudou foi Parsifal. O silêncio, que antes era obediência inconsciente, transformou-se em culpa madura. E a culpa, diferente da vergonha infantil, contém memória: lembra ao cavaleiro que a pergunta não feita ainda lateja no centro do seu destino. Ele, então, finalmente consegue fazer a pergunta: “a quem serve o Graal?”, e Robert Johnson complementa:
“Que pergunta estranha! Dificilmente é compreendida pelos ouvidos de hoje! Em sua essência, a pergunta é a mais profunda que alguém poderia fazer: onde está o centro de gravidade da personalidade? Ou onde fica o centro do significado da vida humana? Hoje, a maioria das pessoas responderia: ‘Eu sou o centro de gravidade’ […] o que significa dizer: ‘Eu quero que Deus me sirva’.”
Robert A. Johnson, He.
Quando Parsifal faz a pergunta, o Castelo responde: “O Graal serve ao Rei do Graal”. Isso significa que a vida serve ao que os cristãos chamam de Deus, ao que Jung chama de Si-Mesmo, ou ao que Viktor Frankl chama de sentido. No fundo, a resposta significa que a vida serve a algo maior que ela.
Quando centramos nossa vida em nós mesmos, isto é, apenas no nosso ego, acabamos por devorar a nós mesmos. Não conseguimos sair nunca do momento urobórico da vida. O ouroboros é a imagem de uma serpente ou dragão que morde a própria cauda formando um círculo.
Erich Neumann usa o ouroboros para descrever o primitivo da consciência: um estado pré-egoico, sem oposição sujeito-objeto, comparável ao embrião aninhado no útero da Grande Mãe. Ali o ego se acha contido no inconsciente e ainda não percebe limites. Essa imagem nos faz lembrar que a individuação, isto é, o caminho de tornarmo-nos quem realmente somos, começa num estado de fusão total com a mãe, mas o crescimento começa quando nos diferenciamos sem destruir a conexão com a fonte.
Isso é honrar o conselho dado pela mãe a Parsifal, a de que fosse à igreja de Deus sempre que necessitasse de alimento. Embora Parsifal tenha se desvencilhado de sua mãe, mantém um bom relacionamento com sua origem, com o seu Si-mesmo, com o seu Self.
Erich Neumann escreve que:
“O desapego da ouroboros, a entrada neste mundo e o encontro com o princípio universal dos opostos são as tarefas essenciais do desenvolvimento humano e individual. O processo de chegar a um acordo com os objetos dos mundos exterior e interior, de adaptação à vida coletiva e de entrosamento no mundo exterior e interior da humanidade, governa, com variados graus de intensidade nas diferentes fases, a vida de cada indivíduo.”
Erich Neumann, A História das Origens da Consciência.
Quando estamos a serviço de algo maior que nós é quando nos damos conta de que a verdadeira felicidade não é uma busca, nem um objetivo de vida, mas é aquilo que acontece, pois nossa vida está a serviço desse algo maior, então tudo que acontece se torna felicidade.
Viktor Frankl escreve que:
“Nós só nos encontramos na medida em que nos perdemos, seja pelo bem de algo ou alguém, pelo bem de uma causa ou de um semelhante, ou por amor a Deus.”
Viktor Frankl, A Falta de Sentido.
Essa lenda fala diretamente a quem sente, lá no fundo, que continua sentado entre dois mundos — o conforto da proteção antiga e o chamado inadiável da própria vocação. O Castelo do Graal visto na adolescência encarna nossos impulsos mais autênticos; quando ele reaparece na meia-idade revela que o inconsciente não esquece promessas feitas ao Self, ao Si-Mesmo ou Deus. Reconhecer o complexo materno e a indecisão que o acompanha não é culpar o passado, mas abrir a porta para um tipo de coragem diferente: a coragem de perguntar na hora certa, de atravessar o limiar e, finalmente, curar a ferida que nos impede de viver plenamente. Porque, se persiste o silêncio, o reino interior continua árido — e o Graal, sempre à vista, jamais é tocado.
“O objetivo da vida não é a felicidade, mas servir a Deus ou ao Graal. Todas as buscas do Graal são para servir a Deus. Se entendermos isto e jogarmos fora essa noção medíocre de que a finalidade da vida é a felicidade pessoal, então nos daremos conta de que essa fugidia qualidade está ao alcance de nossa mão.”
Robert A. Johnson, He.
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