A Parte de Você Que Nunca Cresceu — E Está Te Controlando (Carl Jung)
Transcrição do vídeo
INTRODUÇÃO
Você já sentiu uma tristeza profunda que não consegue explicar?
Já reagiu de forma exagerada em situações simples, como se estivesse protegendo algo muito frágil dentro de você?
Talvez… essa dor não seja apenas sua. Talvez ela pertença à criança que você um dia foi.
A maioria dos adultos carrega traumas não resolvidos da infância — traumas emocionais que se transformam em comportamentos autossabotadores, dependências, crises existenciais e doenças psicossomáticas. Mas o que é essa tal “criança interior” de que tanto se fala? E por que ignorá-la pode estar destruindo silenciosamente a sua vida?
Carl Jung escreveu que “a criança é um símbolo da totalidade psíquica, do que ainda está por vir”. Em outras palavras, ela representa o núcleo mais profundo da sua alma — aquele que foi ferido, esquecido e, muitas vezes, trancado dentro de você.
Neste vídeo, vamos falar sobre como essa criança ainda vive em você, clama por atenção, sabota seus relacionamentos e te impede de viver com leveza e autenticidade.
E, mais importante: vou te mostrar o que fazer para acolher, curar e libertar essa parte essencial de você mesmo.
PARTE 1: O GRITO SILENCIOSO DA CRIANÇA INTERIOR
Imagine acordar todos os dias carregando dentro de si um ser ferido, ignorado, confuso.
Esse ser não grita com palavras, mas com sentimentos: ansiedade constante, raiva desproporcional, procrastinação, vícios, dificuldade de confiar nos outros.
Esses são os sinais do sofrimento da sua criança interior.
Carl Jung dizia que a criança interior representa “o início, a possibilidade, o vir-a-ser” — mas quando essa parte é rejeitada, ela se transforma no oposto: estagnação, medo e sofrimento.
Um adulto que perdeu o contato com a própria criança interior costuma apresentar certos padrões:
- Ele pode ter uma reatividade emocional intensa, em que qualquer crítica vira um ataque pessoal.
- Pode apresentar uma necessidade compulsiva de agradar, para receber o amor que não teve.
- Um medo paralisante de abandono ou rejeição, fruto da sensação ou do abandono original.
- Uma autocrítica impiedosa, herdada das vozes parentais internalizadas.
- E uma busca incessante por validação externa porque o valor próprio foi ignorado.
Esses comportamentos não surgem do nada. Eles são gritos simbólicos de uma parte de você que foi negligenciada.
Alice Miller, em O Drama da Criança Bem Dotada, escreveu:
“Somente quando dou espaço para a voz da minha criança interior é que me sinto genuína e criativa.”
Alice Miller, O Drama da Criança Bem Dotada.
Quando ignoramos essa voz, criamos uma cisão interna: o adulto “funcional” continua a vida — estudando, trabalhando, se relacionando — mas a criança ferida continua gritando por dentro, sabotando tudo.
Marie-Louise von Franz foi ainda mais longe:
“A criança interior é a parte genuína, e a parte genuína dentro da pessoa é a que sofre.”
Marie-Louise von Franz, A Interpretação dos Contos de Fadas.
Se você sente que está vivendo uma vida que não é sua, seguindo um roteiro escrito por expectativas alheias, é provável que tenha se desconectado dessa parte essencial de si.
A boa notícia é que ainda há tempo. A criança interior nunca morre — ela apenas se cala. E tudo que ela quer… é ser ouvida.
PARTE 2: A ORIGEM DA DOR — FERIDAS DA INFÂNCIA QUE NUNCA CICATRIZARAM
Nenhuma criança nasce odiando a si mesma.
Nenhuma criança nasce acreditando que precisa se esforçar para merecer amor.
Mas em algum ponto da infância, algo acontece — e uma ferida se abre.
Essa ferida pode vir de abusos evidentes, como agressões físicas ou verbais, mas também pode vir daquilo que não aconteceu: o toque que faltou, a presença que nunca chegou, o afeto que foi condicionado ao desempenho.
Alice Miller explica que muitos de nós fomos “amados” não por quem éramos, mas pelo que fazíamos — se fôssemos bonzinhos, se tirássemos boas notas, se fôssemos silenciosos e obedientes.
“Quando a pessoa descobre que nunca foi amada por ser quem era, mas apenas pelo que fazia, uma parte profunda dentro dela se rompe.”
Alice Miller, O Drama da Criança Bem Dotada.
Essas experiências deixam marcas invisíveis. A criança aprende que mostrar sua verdadeira essência é perigoso. Que sentir raiva, tristeza ou medo pode gerar rejeição. Que precisa se moldar para ser aceita.
Esse é o nascimento do falso self — uma máscara social construída para garantir pertencimento.
Carl Jung observou que quando a criança não pode expressar livremente suas emoções e desejos, ela se adapta ao ambiente, mas paga um preço alto: o afastamento do self autêntico.
A alma se divide. E essa divisão, mais cedo ou mais tarde, se manifesta em alguns sintomas como um vazio existencial constante, dificuldade em manter relações saudáveis, medo de se expor emocionalmente, culpa por sentir prazer ou alegria, uma sensação crônica de “algo está errado comigo”, etc.
Essas são feridas antigas tentando chamar sua atenção.
Edith Sullwold, no ensaio “O Arquétipo da Criança Interior”, afirma que:
“A criança que todos desejamos curar é aquela que permanece presa em padrões reativos de defesa e proteção, porque foi obrigada a se ajustar a formas externas que não correspondiam à sua natureza.”
Edith Sullwold, O Arquétipo da Criança Interior.
É como uma flor crescendo sob uma tábua pesada: ela tenta se erguer, mas sai torta, pálida, deformada. Só quando essa tábua é removida — quando revisitamos com compaixão as nossas dores infantis — é que a energia vital da criança começa a se libertar.
Talvez você tenha se tornado um adulto competente, produtivo, até admirado. Mas se, por dentro, carrega um medo constante de falhar, ou sente que vive para corresponder às expectativas dos outros, é hora de escutar essa criança ferida.
Não se trata de reviver o passado, mas de reconhecê-lo — com coragem e maturidade — para que ele não controle mais o seu presente.
PARTE 3: A CRIANÇA DIVINA — A FONTE DE CRIATIVIDADE E VITALIDADE DENTRO DE VOCÊ
Existe dentro de você uma força que nunca envelhece.
Ela é curiosa, espontânea, criativa e cheia de entusiasmo.
Essa força é a criança divina, o arquétipo descrito por Jung como o símbolo da totalidade, da promessa e da renovação.
Mas atenção: essa criança não é “fofa” ou “infantilizada”. Ela é radiante, selvagem, corajosa.
Ela representa o que há de mais autêntico e vivo em você.
Segundo Jung,
“A criança representa um sistema em evolução, uma totalidade que abrange as próprias raízes da Natureza.”
Carl Jung, A Psicologia do Arquétipo da Criança.
É por isso que tantas tradições espirituais e mitológicas representam a divindade em forma de criança.
Hermes, por exemplo, o deus da mitologia grega, nasceu pela manhã e à tarde já havia inventado a lira, roubado o gado de Apolo e encantado o Olimpo com sua astúcia e música.
Krishna, a divindade do hinduísmo, ainda bebê, seduzia aldeias inteiras com sua doçura e poder sobrenatural.
Até mesmo o nascimento de Cristo é a epifania do renascimento do espírito humano.
Todos esses exemplos falam da mesma coisa:
a capacidade humana de se reinventar, de renascer, de retornar à essência original.
Essa criança divina vive em você. E você a conhece.
É aquela parte que dança quando ninguém está olhando.
Que tem ideias brilhantes quando está sonhando acordado.
Que sente alegria sem motivo, e que ama com entrega total.
Mas ela precisa de liberdade.
Albert Einstein sabia disso. Ele dizia:
“Não é menos que um milagre o fato de os métodos modernos de instrução ainda não terem estrangulado por completo a sagrada curiosidade da investigação.”
Frase atribuída à Albert Einstein.
A criança divina não sobrevive à repressão constante, à rigidez, à obrigação cega.
Ela adoece quando você vive apenas no piloto automático, focado em produtividade, agradando aos outros e tentando “ser adulto o tempo todo”.
June Singer, psicóloga junguiana, afirma:
“A criança divina dentro de nós dá sentido às nossas iniciativas imaturas; ela nos mostra o lado inconsciente das limitações que vivenciamos.”
June Singer, O Motivo da Criança Divina.
Essa criança é, ao mesmo tempo, vulnerável e poderosa.
Ela representa o seu potencial mais puro — mas para acessá-la, é preciso coragem.
Coragem para desobedecer às expectativas alheias.
Coragem para parecer “bobo” aos olhos dos outros.
Coragem para viver com o coração aberto.
A pergunta é: você ainda consegue ouvi-la?
Ou ela foi silenciada pela vergonha, pelo medo de não ser aceito, pelas críticas que recebeu ao longo da vida?
Resgatar essa criança é se reconectar com a alma.
E não há cura mais profunda do que essa.
PARTE 4: COMO RESGATAR A CRIANÇA INTERIOR — O CAMINHO DA CURA PSICOLÓGICA
Você não precisa de uma máquina do tempo para voltar à infância.
A criança que você foi ainda vive aí dentro — e espera que alguém a escute, acolha e compreenda. Esse “alguém” é você.
O resgate da criança interior começa com um gesto simples, mas poderoso: dar-lhe atenção consciente.
Charles L. Whitfield, psiquiatra especialista em trauma, diz que:
“Curar a criança interior é o ponto de partida para a verdadeira recuperação emocional.”
Charles L. Whitfield , Como Podemos Curar Nossa Criança Interior?
Mas como fazer isso? Aqui vão algumas práticas:
- Pratique o diálogo interno compassivo
Fale com sua criança interior como se ela fosse real — porque, simbolicamente, ela é.
Feche os olhos e pergunte: “O que você está sentindo?”, “O que você precisa?”
Acolha sem julgamento. Não tente corrigir. Apenas ouça. Muitas respostas, então, virão em forma de imagens, sensações ou memórias.
- Escreva com a mão não dominante
Essa é uma técnica de Lucia Capacchione, autora de O Poder da Sua Outra Mão.
Com a mão que você normalmente não usa, escreva perguntas como adulto e responda como criança.
É impressionante como essa técnica acessa conteúdos emocionais profundos, rompendo defesas racionais.
- Reviva memórias com segurança
Veja fotos da infância. Assista aos filmes que amava. Relembre situações significativas.
Mas faça isso com presença adulta — acolhendo tanto os momentos bons quanto os dolorosos.
O objetivo não é nostalgia, mas reintegração.
- Crie um espaço de expressão
Desenhe, cante, brinque, escreva cartas que nunca serão enviadas.
Permita-se fazer coisas “sem sentido” — porque o sentido, aqui, é libertar a criatividade sufocada.
- Procure apoio terapêutico
A terapia é um campo fértil para esse trabalho.
Com o auxílio de um profissional, é possível navegar com segurança pelas camadas mais profundas do inconsciente.
John Bradshaw, referência no tema, escreve em Liberte Sua Criança Interior:
“Enquanto não cuidarmos dessa criança, estaremos condenados a agir como ela — inconscientemente.”
John Bradshaw, Liberte Sua Criança Interior.
A dor que ignoramos se transforma em padrão.
Mas a dor que reconhecemos se transforma em sabedoria.
Este não é um caminho rápido. É um processo contínuo, com altos e baixos.
Mas cada gesto de escuta e acolhimento gera um efeito cascata:
Mais clareza, mais leveza, mais autenticidade.
Ao cuidar da sua criança interior, você não apenas resgata uma parte de si.
Você transforma todo o seu presente.
PARTE 5: TORNAR-SE PAI DE SI MESMO — O PAPEL DO ADULTO CONSCIENTE
Curar a criança interior não é apenas reviver memórias ou praticar exercícios terapêuticos.
É, acima de tudo, assumir a responsabilidade por si mesmo de forma amorosa e consciente.
É tornar-se o pai, a mãe, o guardião interno que talvez você nunca teve.
Nathaniel Branden, psicólogo humanista, escreve:
“O verdadeiro amor-próprio começa quando nos tornamos o pai e a mãe de nossa própria alma.”
Nathaniel Branden, A Integração do Self Mais Jovem.
A pergunta agora é: quem cuida da sua criança interior hoje?
Quem oferece segurança quando você está com medo?
Quem te acolhe quando você se sente insuficiente?
Quem diz “eu te amo, mesmo assim” quando você falha?
Se você ainda espera que o mundo externo ofereça essa segurança — um parceiro, um chefe, um amigo— continuará decepcionado.
Porque essa é uma tarefa que só você pode cumprir.
Tornar-se pai de si mesmo envolve algumas atitudes práticas e profundas:
- Estabeleça limites firmes e protetores
A criança interior precisa de estrutura.
Ela precisa saber que existe um “adulto interno” presente, que não permitirá abusos, que sabe dizer “não” e se coloca com firmeza no mundo.
- Cuide de si com presença e consistência
Não é sobre indulgência, mas sobre zelo. Comer bem, dormir o suficiente, buscar prazer saudável e respeitar seus ritmos são formas concretas de cuidado interno.
- Reconheça suas emoções sem reprimir nem se afogar nelas
O adulto consciente observa. Acolhe. Não nega, nem se deixa dominar. Ele é o espaço seguro onde a criança pode sentir… sem medo de ser rejeitada.
Marie-Louise von Franz afirma:
“Somente se a pessoa aceita a criança interior — e o sofrimento que ela impõe — é que o processo de individuação pode prosseguir.”
Marie-Louise von Franz
Individuação, em termos junguianos, é tornar-se quem se é.
É unir consciente e inconsciente, luz e sombra, passado e presente.
É deixar de ser refém da própria história para ser autor da sua jornada.
Ao se tornar pai de si mesmo, você resgata o que foi perdido:
a confiança, a leveza, a curiosidade, a capacidade de amar e ser amado sem máscaras.
E mais do que isso: você se torna exemplo para os outros.
Pois um adulto que cuida de sua criança interior inspira todos ao redor a fazerem o mesmo.
CONCLUSÃO: A CURA COMEÇA COM VOCÊ
Dentro de você mora alguém que foi ignorado, silenciado, ferido…
mas também alguém que ainda é capaz de sorrir com o brilho nos olhos, de criar mundos, de amar com todo o coração.
Essa pessoa é a sua criança interior. E ela não quer mais ser esquecida.
Hoje, você aprendeu que muitos dos seus medos, bloqueios e dores são ecos de feridas antigas.
Feridas que não cicatrizaram — mas que podem ser curadas.
Você aprendeu que essa criança também é fonte de poder, criatividade e identidade.
E que, para curá-la, não basta buscar no outro. É preciso voltar-se para si. Tornar-se o pai, a mãe, o guia.
Como dizia Jung:
“A criança não é apenas uma lembrança. Ela é uma presença viva, que pede por desenvolvimento, expressão e amor.”
Carl Jung, A Psicologia do Arquétipo da Criança.
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