4 Livros para abandonar autoajuda e mudar de verdade
Transcrição do vídeo
Introdução — Por que trocar best-sellers de autoajuda por obras clássicas?
Quantas vezes você terminou um livro de autoajuda sentindo-se motivado… só para descobrir, poucas semanas depois, que nada realmente mudou?
Ok, você pode realmente aprender alguma coisa com os livros de autoajuda, não estou desconsiderando as mudanças, ainda que mínimas, que eles podem causar no comportamento ou na sua visão de mundo. 12 Regras para a Vida, por exemplo, é um livro que eu constantemente recomendo aqui no canal.
Mas o que acontece é que estes livros são apenas condensações, muitas vezes duvidosas, dos grandes tratados de ética e filosofia que já foram escritos há séculos… ou há milênios. E a minha ideia com esse vídeo é fazer você perceber justamente isso. E diferente desses grandes tratados, os livros de autoajuda são escritos levando em consideração o engajamento, o imediatismo e o viés confirmatório do público de hoje em dia, onde os resultados e a produtividade são exigidos mais do que a formação do caráter e o aprendizado de fato. Com essa simplificação, muito coisa se perde no caminho.
Mas tudo que vem muito rápido vai embora tão rápido quanto chegou.
Os livros de autoajuda fazem uma descrição mais ou menos genérica do que você está sofrendo e oferecem um passo a passo que você vai executar durante alguns dias, ou algumas semanas, mas que, logo depois, você provavelmente vai abandonar e voltar para a mesma situação em que começou a ler o livro.
Então você vai procurar outro livro de autoajuda seguindo mais ou menos a mesma receita do anterior e repetir esse processo mais uma vez.
Só que, sem se dar conta, tudo o que você está fazendo é acumulando as informações que esses livros trazem, sem praticar realmente o que eles estão te mostrando. O que você gosta, de fato, não é de fazer, mas ter a sensação de saber o que se deve fazer. Se um livro de autoajuda realmente te ajudasse, você não compraria outro e mais outro e mais outro. Eles não mexem profundamente com você, só disparam sua dopamina por alguns dias.
Mas, talvez, o problema não esteja em quem lê, e, sim, na superficialidade de muitos best-sellers modernos, que te mostram caminhos prontos com passo a passo, te dando a ilusão de transformação com algumas frases impactantes. Quando tudo se torna palatável e simplificado, temos a falsa sensação de que basta uma simples mudança na consciência ou uma sequência de instruções para realmente atingir algum sucesso.
Então eu lhe pergunto: e se as respostas que buscamos estiverem guardadas em textos que atravessaram milênios, testados pelo tempo e pela experiência humana, que, por mais que sejam densos e que muitas vezes exigem mais empenho do leitor, são realmente o ponto norteador da conduta humana? E se, ao invés de colecionar técnicas, aprendêssemos a esculpir, de fato, o próprio caráter?
É por isso que, neste vídeo, eu vou te oferecer alternativas a diversos livros de autoajuda que você encontra por aí. Se você já leu alguns desses livros de autoajuda que eu vou citar, você pode, inclusive, ler as alternativas que eu vou oferecer e ver como que tudo já estava neles, só que, diferente dos livros de autoajuda, com estes você vai realmente moldar o seu pensamento, ou como o próprio Platão dizia, imprimir a verdade na alma.
E se ficou parecendo que agora eu usei um argumento de apelo à emoção, que mais parece autoajuda, saiba que é uma técnica velha, usada desde a Grécia antiga.
E claro, esses livros exigem mais atenção e um pouco mais de dedicação. Mas é aí que está a grande questão. Lendo-os e os compreendendo, você, de fato, perceberá as mudanças a longo prazo. Pois alguns dos fatores que nos fazem realmente aprender e absorver um conteúdo é a emoção que ele nos causa e o nível de dificuldade que estamos dispostos a superar.
Os livros que vou te apresentar como alternativa aos livros de autoajuda não são livros difíceis, mas exigem um pouco de dedicação. Só que uma coisa eu garanto: não há nada melhor do que alcançar aquele momento de consciência onde parece que todas as ideias se encaixaram, em que o conteúdo do livro começou a fazer sentido e tudo ficou mais claro. É como se você realmente sentisse que ficou mais inteligente.
Então vamos lá!
O mundo de Sofia por No Princípio Era a Maravilha, de Enrico Berti.
O primeiro livro que eu vou comentar não é necessariamente de autoajuda, mas a alternativa que eu vou sugerir para ele vai guiar todas as outras recomendações.
Muitos devem ter tido o primeiro contato com a filosofia através do livro O Mundo de Sofia. Este não é um livro que se encaixa na categoria autoajuda. É um livro classificado como infanto-juvenil, mas é justamente por isso que eu coloquei aqui na lista. O livro se trata de um romance, onde uma menina, chamada Sofia, ao chegar da escola, começa a receber cartas misteriosas contendo lições de história da filosofia. Cada capítulo introduz um filósofo — desde os Pré-socráticos até Jean-Paul Sartre — enquanto a própria trama vai evoluindo.
O livro usa uma linguagem acessível para tratar sobre assuntos bem complexos, tentando expor quase 2700 anos de filosofia em menos de 700 páginas. É como se fosse um manual disfarçado de ficção que mantém milhões de jovens lendo sobre Platão ou Nietzsche sem perceberem que estavam estudando esses filósofos.
Eu não tiro o mérito desse livro. O autor realmente faz uma tentativa ousada de ensinar filosofia através de uma história. É uma ótima literatura, mas não para aprender filosofia. O problema está em justamente tentar encaixar a filosofia para um público mais infanto-juvenil, como se fosse algo realmente fácil de compreender. Dessa forma, teorias complexas são reduzidas a meras definições ou simplificadas a tal ponto que se tornam caricaturas. Toda a complexidade do autor é reduzida a alegorias e comparações. Muitas vezes é necessário ter lido toda a obra de um autor para compreender um único conceito. Mas muito mais do que compreender os conceitos é crucial acompanhar o raciocínio do filósofo em direção às suas conclusões. Os diálogos socráticos, por exemplo, fazem isso perfeitamente. Mas não são esses diálogos que quero recomendar como uma alternativa ao Mundo de Sofia, mas sim o livro No Princípio Era a Maravilha, de Enrico Berti.
O livro parte do fundamento de que a filosofia nasce do espanto diante dos fenômenos ao redor do homem. A filosofia começa quando a mente, confrontada com um fenômeno que não entende, se pergunta “por quê?”. Esse estado de espanto da nossa alma – que não é nem prazer, nem dor, mas de plena abertura – funda a liberdade intelectual e, portanto, toda a investigação racional. A filosofia só foi criada porque o homem esteve livre para pensar.
Como a filosofia nasce pelo fato de o homem estar maravilhado com o que vê a sua volta, se perguntando o porquê das coisas, o livro é dividido em oito capítulos que articula uma grande pergunta da filosofia, que são: O universo teve uma origem? O que é o ser? Quem são os deuses? Que é o homem? Por que dizes isso? Que efeito produz a poesia? Que é a felicidade? Qual o destino do homem após a morte?
Para cada uma dessas perguntas, Enrico Berti usa os ensinamentos dos filósofos antigos, como Platão, Aristóteles e Cícero para responde-las.
O livro abrange desde os pré-socráticos, por volta de 700 a. C., até Plotino, no século 3 a.C., contemplando todos os maiores filósofos do período antigo. Enrico Berti defende a ideia de que a filosofia não é acúmulo de doutrinas, mas um exercício contínuo de perguntas, mostrando como os temas metafísicos, morais e políticos surgem encadeados através dos filósofos, onde, muitas vezes, o que eles estavam tentando fazer é responder às perguntas que os filósofos anteriores deixaram em aberto, e o livro tenta recuperar a unidade original do conhecimento que os antigos tanto faziam questão de evidenciar.
No fundo, o livro é uma excelente porta de entrada, tanto como história da filosofia antiga, quanto como um estudo sistemático que precede a leitura dos textos originais dos filósofos da antiguidade. Diferente do O Mundo de Sofia, este livro foca somente na filosofia antiga. Mas não há escapatória, se você quiser compreender Nietzsche, Sartre, Schopenhauer e tantos outros filósofos modernos, você vai ter que ler os filósofos antigos, tanto os gregos quantos os romanos.
Você pode, inclusive, ler o livro do Enrico Berti em conjunto com um livro de História da Filosofia Antiga, do qual eu recomendo o do Giovanne Reale. Ali você terá uma base excelente, desde os pré-socráticos até o fim da idade média, para que, então, você possa ler os filósofos de fato.
Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, Mais Esperto Que o Diabo e Armas Da Persuasão por Górgias, de Platão.
Passando para a próxima recomendação. Você também já deve ter ouvido falar de livros como Mais Esperto Que o Diabo, Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas e Armas Da Persuasão. É claro que dá pra extrair muito coisa de todos esses livros. No entanto, se traçarmos uma rota de origem para as ideias desses livros, vamos nos deparar com o diálogo Górgias, de Platão, escrito há mais de 2400 anos. Sério, uma boa leitura desse diálogo te previne de uma porrada de sofismas e falácias modernas tão bem quanto qualquer livro de persuasão escrito por aí.
Os diálogos escritos por Platão apresentam Sócrates, que foi o seu mestre, conversando com diversos interlocutores para investigar questões éticas e políticas que eram do interesse dos cidadãos que conviviam em uma pólis, como assim eram chamadas as cidades-estados na Grécia antiga. Como os textos de Platão são escritos através de diálogos, a leitura fica muito mais fácil, sem, no entanto, retirar a profundidade do texto.
Nesse diálogo, Sócrates dialoga com Górgias, que foi um sofista da época, e com vários outros interlocutores, para examinar primeiro o que é a retórica, distinguir as ferramentas de persuasão que conduz ao conhecimento verdadeiro daquela que apenas produz crenças e demonstra que qualquer uso da palavra dissociado da verdade degrada tanto o orador quanto a comunidade onde os discursos estão sendo proferidos, basta ver qualquer discurso político atual para perceber o que Sócrates já dizia há mais de 2400 anos. Ler as primeiras páginas de Górgias é como se você lesse uma adaptação em diálogo dos livros modernos que explicam a arte da retórica e da persuasão.
Mais para frente no diálogo, Sócrates discute com outro interlocutor chamado Pólo, que defende que manipular multidões e escapar de punições é um sinal do verdadeiro poder que alguém pode alcançar. Mas aí Sócrates responde com o seu famoso paradoxo moral: é pior cometer uma injustiça do que sofrê-la, e permanecer impune agrava o mal porque impede a cura justamente pela punição. Para Platão, a alma ordenada pela justiça é a condição do florescimento, e tudo o que desordena essa harmonia — mesmo que renda vantagens externas — empobrece o próprio ser. Pólo, reduzindo o poder a um mero domínio externo, ilustra o erro de confundir força com bem-estar. Para Sócrates, aquele que sofreu a injustiça está em vantagem com relação àquele que cometeu, já que, agora, quem cometeu a injustiça precisa ser punido de alguma forma.
Outro interlocutor que aparece no diálogo, chamado Cálicles, despreza as convenções morais e exalta a força bruta, defendendo que os mais fortes merecem mais do que os mais fracos. A virtude, para ele, está em satisfazer apetites sem restrições, pois reprimi-los seria contrariar a própria natureza. Sócrates contra-argumenta essa ideia com a imagem de um jarro furado, dizendo que, quem vive na busca pelo prazer precisa encher esse jarro sem cessar, mas ele nunca transborda, justamente porque está furado, e, dessa forma, a pessoa nunca fica satisfeito, sofrendo mais que o necessário.
Enquanto isso, aquele é temperante mantém os jarros com uma quantidade moderada de água, mas que se mostra até mais cheio do que o jarro furado. O conflito entre moderação e hedonismo culmina na defesa socrática de que governar a si mesmo é pré-requisito para governar a cidade; sem ordem interior, toda ambição política degenera em tirania sobre os outros e sobre si. Isso diz muito sobre a nossa política atual.
Pra quem leu o Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas e Mais Esperto que O Diabo, com certeza vai extrair muito ouro dessa parte do diálogo. A todo o momento você se pega fazendo comparações com as situações dos nossos dias, percebendo o quão atual esse diálogo é. Vamos para a próxima recomendação.
7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes por Ética a Nicômaco, de Aristóteles.
Você já deve ter lido ou ouvido falar do livro 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes. O livro gira em torno da ideia de que a verdadeira eficácia nasce de princípios atemporais e não de “truques” de produtividade. Então, o autor divide o desenvolvimento pessoal em três estágios: dependência → independência → interdependência. A dependência é quando você precisa dos outros para decidir, reconhecer ou fazer as coisas para você. Em certa medida, nós somos — e sempre vamos ser — dependentes dos outros, mas permanecer nesse estágio de desenvolvimento gera impotência e estagnação.
Os 3 primeiros hábitos explicados no livro conduzem a pessoa a passar da dependência para a independência. Os 4 hábitos restantes trabalham a interdependência, que é quando pessoas independentes trabalham juntas.
Mas e se eu te dissesse que o tratado Ética a Nicômaco, de Aristóteles, escrito há mais de 2400 anos permanece tão — ou mais — atual do que os 7 Hábitos?
O filósofo grego Aristóteles escreveu esse tratado de ética como um manual de formação do caráter para seu filho, chamado Nicômaco, e que depois serviu como apostila para todos os cidadãos de Atenas, local onde Aristóteles passou boa parte da sua vida sendo discípulo de Platão.
A obra se organiza em dez partes que respondem, de forma encadeada, a três perguntas centrais: (1) Qual é o fim último da vida humana? (2) Quais virtudes tornam esse fim alcançável? (3) E como, na prática, cultivamos essas virtudes?
Logo na primeira parte, Aristóteles afirma que todos os atos humanos apontam para algum bem, e que o bem supremo é a eudaimonia — que é traduzida como “felicidade”, mas pode ser melhor entendida como “vida plena”. A eudaimonia não é um sentimento passageiro, e sim hábito que é construído e que exige manutenção durante toda a vida. Com essa explicação já deu para perceber que praticamente metade dos livros de autoajuda vem desse tratado de ética de Aristóteles.
Para descobrir como alcançar essa eudaimonia, Aristóteles pergunta qual é a “função” própria do ser humano. Se, por exemplo, as facas servem para cortar e os olhos para ver, é através da razão que o homem cumpre a sua função; logo, a excelência humana reside em usar a razão para orientar a ação. A vida plena será, portanto, uma atividade racional conforme a virtude.
Virtude é justamente um hábito adquirido que nos dispõe a escolher o meio-termo adequado entre dois extremos viciosos, guiados pela razão. Não é um talento inato nem uma emoção passageira: é uma disposição estável, construída pela prática, que torna espontâneo escolher o melhor de maneira consistente.
A coragem, por exemplo, não é ausência de medo e nem covardia; ela equilibra o medo com a avaliação racional do perigo. O mesmo vale para a generosidade, que está entre a prodigalidade e a avareza, ou para a temperança, que está entre a indulgência e a insensibilidade. Cada virtude moral, portanto, ajusta impulsos naturais por meio do treino repetido até que o “agir bem” se torne tão automático quanto caminhar.
Ética a Nicômaco, além de ser um tratado sobre as virtudes, sobre a vida plena, a amizade e o fim último da vida, é um manual prático de como desenvolver essas virtudes. Enfim, esse é, com certeza, um livro que, depois de ler por completo, você vai revisitá-lo muitas vezes. E para quem não sabe, o nome do canal são dois termos que advém da filosofia de Aristóteles. Enfim, próxima e última recomendação.
A Sutil Arte de Ligar o F*da-se por A Consolação da Filosofia, de Severino Boécio.
A Sutil Arte de Ligar o F*oda-se é um dos livros mais conhecidos de autoajuda. E se você acha que este livro não se enquadro na categoria de autoajuda, saiba que o próprio autor o classifica assim em um vídeo dele. E sim, Mark Manson, o autor do livro, tem o seu próprio canal no Youtube, que é bem legal, inclusive.
No livro, o autor parte de uma provocação simples: a vida é limitada demais para desperdiçarmos energia tentando ser “positivos” o tempo todo. Em vez de adotar o otimismo compulsório da autoajuda tradicional, ele propõe selecionar com cuidado os poucos problemas que realmente merecem a nossa preocupação para então não se importar com o resto. Essa seria a tal “sutileza” que o autor propõe.
Ele vai nos explicar que a busca pela felicidade gera infelicidade, que o crescimento surge ao escolher problemas melhores e fracassar de modo que o aprendizado compense a dor e que, ao termos a consciência da nossa própria finitude, inspirada no estoicismo e no budismo, podemos, então, clarificar prioridades.
O próprio autor, em um de seus vídeos, explica que a autoajuda é uma versão mais palatável dos grandes tratados filosóficos e éticas já escritos. Tudo depende do modo como você apresenta o material para o público. Um livro chamado A Sutil Arte de Ligar o Foda-se, com uma linguagem clara e sarcástica, é mais fácil de ser digerido do que um livro chamado Metafísica dos Costumes. Mas, novamente, os livros de autoajuda são escritos levando em conta o engajamento e a acessibilidade. Mark Manson estava ciente disso. Kant, por outro lado, o autor da Metafísica dos Costumes, não estava pensando em engajamento e número de seguidores, mas em justamente fazer filosofia.
Mas sabe quem realmente ligou o foda-se quando percebeu que a verdadeira liberdade é aquela que está em nosso interior, sem depender de qualquer situação externa? Severino Boécio, autor de um dos tratados mais poéticos e consoladores já escritos, chamado justamente A Consolação da Filosofia.
Boécio, por volta do ano de 524, escreveu esse livro na prisão enquanto aguardava sua execução por um crime que não havia cometido. Ali, ele dialoga com uma figura alegórica que personifica a Filosofia e lhe recorda da impermanência de tudo o que o destino dá e tira dos seres humanos. Privado da sua família, dos seus bens e da sua riqueza, a figura da Filosofia vai conduzindo Boécio a investigar o que, em nós, continua inatingível pelo acaso. Só o que permanece é a razão esclarecida e a vontade de buscar o bem supremo de todas as coisas.
Para Boécio, a razão testemunha que só esse bem supremo, completo e autossuficiente pode satisfazer plenamente o desejo humano. Esse bem, que é a fonte de todo o restante, é identificado com Deus. Quando o intelecto contempla essa realidade e a vontade se alinha a ela por meio da virtude, o indivíduo alcança estabilidade interior que nenhuma mudança externa consegue abalar. Mas o argumento não recorre à uma simples revelação religiosa; ele parte da premissa filosófica de que tudo o que existe tende ao seu princípio, e o princípio último do cosmos é a inteligência divina.
Daqui decorre a análise do mal. A figura da Filosofia mostra que atos injustos não possuem força real, porque o poder autêntico consiste em agir conforme a natureza racional. O vício é descrito como uma impotência: quanto mais afastado do bem, menos a pessoa consegue realizar o que deseja em sentido pleno. A aparente prosperidade do mal no mundo resulta de uma visão parcial e limitada da própria sabedoria humana; porém, examinada à luz da inteligência divina, o mal se revela como uma falta, pois está mais afastado de Deus, e não como um ganho.
Reconhecer essa ordem que governa o mundo não elimina a liberdade humana nem as virtudes; pelo contrário, é o que lhes dá o fundamento. Ao substituir as frustrações por entendimento racional das hierarquias do cosmo, Boécio oferece uma forma de estabilidade interior capaz de resistir mesmo ao encontro da morte. O tom poético e a escrita em forma de diálogo te ajudam muito a compreender os conceitos que o autor vai expondo ao longo do livro. Enfim, se quiser uma alternativa à Sutil Arte de ligar o Foda-se, leia A Consolação da Filosofia.
Se você chegou até aqui, comente se já tinha lido alguns desses livros, tanto os de autoajuda, quanto os que eu escolhi como alternativa. Todos as recomendações que eu sugeri no vídeo estão em ordem de leitura: você pode começar por No Princípio Era a Maravilha, Ler O Primeiro Volume de História da Filosofia do Giovanne Reale, o diálogo Górgias, Ética a Nicõmaco e, por fim, A Consolação da Filosofia. E se quiser mais recomendações de livros, acesse a loja do canal na Amazon para conferir todas as listas. O link está na descrição.
Leitura recomendadas no vídeo:
📘 Lista de livros sugeridos no vídeo: https://amzn.to/46AnB3i